Alek Maracajá

Analista de dados

Política

Maquiavel e a política atual: o príncipe digital do século XXI


07/08/2025

Nicolau Maquiavel foi um dos primeiros a tratar a política como ela realmente é. Enquanto muitos idealizavam o poder, ele descreveu o funcionamento real do jogo político. Em O Príncipe, sua obra mais conhecida, ele apresentou um olhar cru sobre o poder, deixando claro que, para governar, é preciso mais do que boas intenções. Mais de 500 anos depois, suas ideias continuam vivas. A diferença é que, agora, o palco é digital e os príncipes usam redes sociais em vez de armaduras. Maquiavel enxergou o poder nu. Hoje, vestimos esse mesmo poder com filtros, likes e estratégias de engajamento.

A famosa ideia de que os fins justificam os meios, embora nunca escrita dessa forma exata por ele, representa bem o pensamento maquiavélico. Hoje, vemos campanhas eleitorais que apelam para estratégias emocionais, fake news e manipulação de dados. A ética virou ferramenta de marketing. O que importa é vencer. E quem dita o ritmo não são os filósofos, mas os algoritmos. Na política digital, não vence quem fala mais alto, mas quem entende o silêncio do algoritmo.

Maquiavel também dizia que é mais seguro ser temido do que amado. Olhando ao redor, não faltam exemplos de líderes que preferem se impor pelo medo. Criam inimigos, falam para bolhas, alimentam conflitos e se fortalecem com a polarização. O medo é combustível. Ele movimenta multidões, principalmente quando se constrói uma ameaça comum.

Outro ponto central: o governante precisa parecer virtuoso, mesmo que não seja. A política da aparência, hoje, é regra. Perfis bem cuidados, vídeos emocionais, frases ensaiadas. O discurso é calculado. A imagem é moldada com precisão. Mas o bastidor, quase sempre, segue outra lógica. A diferença entre o que se diz e o que se faz é muitas vezes abissal. O príncipe do século XXI não conquista territórios. Ele conquista narrativas.

Maquiavel entendia que o apoio popular é volátil. E nunca foi tão instável quanto agora. A popularidade nas redes pode explodir de manhã e evaporar à tarde. As narrativas mudam rápido, o engajamento precisa ser constante e a disputa pela atenção é permanente. A fidelidade foi trocada pela viralização.

Ele também escreveu que quem engana sempre encontrará quem se deixe enganar. Essa frase poderia estar em qualquer debate sobre fake news. A desinformação virou uma arma poderosa. E há um público que prefere ser enganado, desde que a mentira reforce sua visão de mundo.

Maquiavel não foi um vilão. Foi um observador realista. E talvez por isso seja tão atual. O príncipe de hoje sabe que precisa controlar a narrativa, entender o sentimento da multidão e manter a própria imagem no jogo. A política mudou de forma, mas não de essência. Ainda é sobre poder, percepção e permanência.

A política continua sendo o que sempre foi. A diferença é que agora tudo acontece em tempo real. E quem domina a atenção, domina o poder.


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