José Nunes

Jornalista, escritor e integrante do IHGP.

Paraíba

Mandacaru: símbolo de resistência


15/05/2022

Mandacaru (Foto: DoDesign-s)

Quando chegamos ao sítio, com o Sol virando de lado, o mandacaru imponente perto da casa nos deu boas-vindas, enquanto olhávamos ao largo a imensidão da caatinga na qual tínhamos o acariciar do vento morno.

Na caatinga devastada, em lugares distantes, estavam o mandacaru e o juazeiro perdidos na imensidão de terra desértica, a nos oferecer sombra.

A vegetação tostada, sinal de terra em cascalho. Símbolo de resistência do caboclo do Nordeste seco, o mandacaru destacava-se na caatinga pelo porte e pela cor de esperança.

No aceiro do terreiro da casa construída numa pequena elevação, caiada de branco, com porta e janela olhando para o sul, estava o mandacaru hirto e majestoso no meio da vegetação tostada do Cariri de Caturité. Podíamos contemplá-lo à distância, porque se sobressaia na paisagem arregaçada por causa da ausência de chuva.

No período de inverno, mantém-se taciturno entre a vegetação para não ofuscar a beleza das outras plantas ao redor, mas mostra sua exuberância quando tudo é desolação.

Sua resistência às intempéries estimula as pessoas a nunca se separar daquele torrão, ademais suas flores brancas atraem o mais distraído olhar. Durante o dia suas flores murcham para melhor resistir ao Sol, retornando à noite para disputar com as estrelas os olhares distraídos do caboclo fatigado.

Planta que nasce em qualquer lugar, sem os cuidados que outra cultura exige, nutre-se do pouco nutriente retirado do solo e carece do mínimo de água para sobreviver a mais cruel temperatura. Se na seca é usado na alimentação de animais, das flores a arapuá retira o néctar.

Na sua sombra acomodam-se calangos e insetos que ainda resistem ao clima abrasador.

Naquele dia da visita com o Sol a pino, recorremos à sombra do mandacaru, único refúgio depois do alpendre da pequena casa, onde o parceiro de sonhos abria os alforjes da memória de vaqueiro para falar de sua vida, recordou pedaços de suas peripécias. Sua história foi vivida no mormaço, no sumiço da água nos barreiros e riachos, e na poeira da terra que o vento conduz em pequenos redemoinhos, espalhando gravetos e folhas secas. Recordou que dividia com os animais a mesma agonia e com os familiares os mesmos sonhos.

Nas serras do Brejo, que são paisagens de minha infância, também nasce mandacaru, que chamamos cardeiro. Seu verde se esparrama pelas enseadas, cresce na beira de alguma reserva de mato no aceiro de canaviais, mesmo sem a abundância como brota e sobrevive nos Sertões.

Pode até não ter a imponência dos existentes nas paisagens sertanejas, mas no Brejo ou no Agreste, nos lembra de que somos frutos da mesma terra.


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