Cinema

Lives e Mídias Sociais – até onde isso funciona?


21/10/2020

Cena de O Dilema das Redes (2020) - Imagem -reprodução

                      Temos vivido tempos pós-modernos, onde cada cidadão ou cidadã tem na palma da mão disponível um aparelho de smarthphone interligado com o mundo. Já era de se prever essa ferramenta virtual envolvendo ações que vão desde o básico falar através de ligações como nos antigos telefones, a movimentar conta bancária, marcar consultas e receber exames, visitar museus virtuais, tirar fotos, fazer reservas, solicitar entrega de comida e remédios, escutar música, assistir vídeos, pesquisar tudo sobre qualquer assunto, realizar reuniões online e muito, muito mais. Uma janela para o mundo, globalizando as relações sociais o tempo inteiro.

Com o advento da pandemia do Covid-19, essa ferramenta intensificou sua utilização no mundo, inclusive, forçando as escolas e universidades a aprender o uso e prática de aulas online, ainda em fase como que experimental com margem de rejeição e pior, grande margem de exclusão.
Na área artística e cultural, uma avalanche de programação de lives, na maioria com apresentações de artistas fazendo vaquinhas, uma espécie de couvert virtual, onde cada internauta deposita o valor que achar justo pelo trabalho apresentado.

Também foi acelerado o processo por conta das eleições, com os candidatos preenchendo espaços os mais diversos possíveis no objetivo de angariar votos. As campanhas eleitorais juntam-se às mídias tradicionais de rádio, televisão e impressos gráficos que são distribuídos nas ruas como adesivos e panfletos e outras peças.

Ao mesmo tempo, assistimos com isso o aumento de práticas criminosas, seja na sedução de menores, na ação de hackers (especialistas em informática com capacidade de invadir e modificar sistemas como dos bancários, das instituições de Governo e empresas privadas e outros), ou na construção de plataformas especializadas na difusão de fake news (notícias falsas).

Outra consequência nociva começa a ser percebida quando acontecem reuniões em família ou com amigos, em que, cada personagem está ligado sem tirar os olhos da tela do smarth, e ao mesmo tempo ouvindo as conversas. Inicia aí uma doença chamada stress, que pode chegar à depressão e outras perigosas patologias (alterações com desvio anatômico ou fisiológico no organismo). A psicologia está com os gabinetes lotados para consultas e tratamentos prescritos a partir destes sintomas.

Nas mídias sociais são expostas as ações cotidianas de todos os públicos envolvidos. Campanhas individuais ou coletivas são difundidas através da troca democrática de mensagens com opiniões de ódio ou amor, de criatividade e ajuda ou exploração apenas comercial a serviço do interesse capital. A individualização ou participação em grupos cresce cada vez mais. Campanhas de posicionamento ante racismo, em defesa das mulheres, em defesa da natureza, sobre proteção de animais, crianças perdidas, idosos, cancerosos, e todo um catálogo de processos da problemática social lá podem ser encontradas.

Artistas que antes cantavam e tocavam para públicos de cinquenta, cem pessoas, até os mega eventos, com públicos de milhares de pessoas frente a frente, renderam-se às lives. E o que se tem com isso? A redução do público, a concorrência e a não arrecadação necessária de remuneração de seus trabalhos para sustento próprio e da família. Vemos lives que não passam de dez, quinze participantes. O que chega a ser lamentável. Ou outras que arrebatam milhares de internautas, quando se trata de ídolos já desde antes consagrados pelo grande público como chega a ser o caso dos cantores sertanejos.

No campo das academias e das consultorias, vem se repetindo um como que desapontamento, de pequenos públicos reduzidos a no máximo duas, três dezenas de participantes. A que leva tudo isso? Será que funciona? Quais os resultados?

Não acreditamos que o momento pós-pandemia deva continuar distanciando pessoas e levando-as a relacionar-se apenas através de processos virtuais. As igrejas, os shows de música, teatro, dança, e outros, precisam de público, do calor humano, do aplauso ao vivo. Restaurantes, a maioria que não sobreviveu e fechou as portas por falta de clientes, precisam voltar a funcionar. Logicamente resguardas as proporções e mantendo ativos os protocolos de higienização e novo normal.

Mas, o que afinal mudou? A pandemia teria nos ofertado antecipar de forma potencial o uso da tecnologia para nos tornarmos cada vez mais automatizados? Onde nossas vontades, nossos desejos, nossa liberdade?

Os filmes The Social Network – 2010 (A Rede Social, dirigido por David Fincher, biográfico do jovem Mark Zuckerberg, que conta a história da criação da rede social Facebook e seus desdobramentos, baseado no livro de não ficção The Accidental Billionaires, de Ben Mezrich), e O Dilema das Redes Sociais, do diretor americano Jeff Orlowski, são alertas assustadores. São filmes que nos questionam se somos clientes ou usuários, quando a palavra usuário é usada apenas para referência a drogas e internautas viciados.

A ideia básica, como mostra Tristan Harris, engenheiro, ex-designer ético do Google, hoje um militante contra o vício das redes, é que se você não está pagando pelo produto, você é o produto…

A maldição do século 21 tem como proposta nos transformar em algoritmos, com direito a ansiedade, depressão, tentativas de suicídio, internações e tudo o mais. Tudo isto não significa apenas assistir a uma live ou participar de mídias sociais. Se você caminha com seu celular, se vai pra cama ou banheiro com esse aparelhinho do lado, você é já um forte candidato ao vício contemporâneo.

Por outro lado é preciso repensar o lado humanitário das coisas. É para isso que, segundo Philip Kotler, o marketing 4.0 chama a nossa atenção.


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