José Nunes

Jornalista, escritor e integrante do IHGP.

Cultura

Ler Prefácios


24/04/2022

José Nunes, é jornalista paraibano

Conheci escritores que não gostam que prefaciem seus livros, enquanto outros até acrescentam posfácio e orelhas em suas obras. Estes acréscimos têm como intuito tornar o trabalho mais compreensível. Confesso que não sou contra aos prefácios, mas antes de editar os meus livros gosto de ouvir leitores que, aparentemente, sem os conhecimentos teóricos. Alguns livros que publiquei tiveram prefaciadores de alto nível de sensibilidade, que trouxeram maior dimensão aos escritos. Mas hoje me dou por satisfeito quando o leitor comum fala daquilo que sentiu e percebeu nos escritos que publico.

O prefácio é colocado no livro como forma explicativa da obra. Deve ser pequeno, expondo ideias e julgando o que acha indispensável para o entendimento do livro, facilitando a vida do leitor para a compreensão do produto da imaginação do autor.

Do prefaciador espera-se ideia, sutileza e percepção. Bons prefácios são ótimos ensaios, mesmo curtos. O conteúdo abordado pelo livro influencia na escolha do prefaciador, muitas vezes recaindo em pessoas de convivência com a literatura que se pratica.

Há prefácios ou orelhas de obras literárias que muitas vezes nem fazem análise apurada da obra apresentada. Por isso prefiro a opinião de leitores comuns antes de liberar a obra à apreciação do público, mesmo não constando seu nome na publicação.

Das muitas coisas que aprendi com Nathanael Alves, meu primeiro orientador de leituras e paciente revisor de meus escritos de neófito escritor, é recomendável deixar a leitura do prefácio ou apresentação do livro às mãos ao final da última página lida. Isso tem serventia num aproveitamento na aprendizagem, pois é nessa fase quando se confronta aquilo que o prefaciador afirma com o que está expresso no corpo do livro.

Há as apresentações ou orelhas não são elaboradas pelo próprio autor, como revelou certa vez Carlos Drummond de Andrade, pois ele mesmo produziu muitas resenhas sobre suas obras. Continuo com os ensinamentos do meu professor Nathanael, porque na leitura sem a preliminar “resenha” somos levados a um esforço para melhor compreender aquilo que o autor quis nos dizer, mesmo que, intencionalmente, o leitor seja submetido a uma corrida amarrado por corrente e cadeados.

Se a função do prefácio é tornar fácil a vida dos leitores, mostrando as trilhas das correntezas para a leitura sem turbulência para navegar com seu barco, casos há em que isso não acontece.

Todos os livros aos quais dou vida, eu mostrei a leitores anônimos, deles desejando o parecer sem o olhar crítico, mas do leitor que se delicia com o texto sem arranhões nem histórias balofas.

Recordo as palavras de Miguel Torga, escritor português, que recusava prefaciar novatos, sempre com uma pergunta: – Pretende publicar a sua obra ou o meu prefácio? O sujeito encabulado, o deixava desincumbido de fazer certas leituras. O prefácio muitas vezes fala mais do que o livro, era o que dizia o escritor do Além-mar.


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