Política
Joana Angélica – Mártir da Independência
24/09/2022

Publicado no jornal A UNIÃO edição de hoje
Dentre as mulheres que fizeram história no movimento pela independência do Brasil, há de se reverenciar a memória de Joana Angélica, religiosa que se tornou mártir quando eclodiram reações populares contra a nomeação do militar português Inácio Luis Madeira de Melo para o cargo de governador das Armas da Bahia.
A Madre Joana Angélica de Jesus era a abadessa do Convento Nossa Senhora da Conceição da Lapa, cumprindo a responsabilidade de proteger aquela casa religiosa. Nessa condição, no dia 20 de fevereiro de 1822, enfrentou os soldados portugueses que tinham vindo para a Bahia desde o Dia do Fico, postando-se à entrada da clausura, na corajosa decisão de defender o convento e resguardar a integridade das freiras que ali se encontravam, ao ver que haviam recebido ordens para localizar patriotas ali escondidos. A golpes de machado derrubaram as portas do convento invadindo-o para buscar cumprirem a missão que lhes foi determinada pelo General Madeira.
Sem se intimidar, ela gritava: “Para trás, bárbaros! Respeitai a casa de Deus! Só entrarão passando por cima do meu cadáver!”. Por conta disso, um soldado da tropa deu-lhe um golpe mortal de baioneta, vindo a falecer no dia seguinte, aos 60 anos de idade. As demais freiras conseguiram fugir pelas portas do fundo do convento. A Madre Joana Angélica tornava-se, então, a primeira mártir da independência.
Seu assassinato causou um clima de consternação na Bahia, sendo um dos estopins da revolta dos brasileiros. Sua morte reveste-se, portanto, de especial significado cívico e religioso, no contexto das lutas pela independência no recôncavo baiano, que culminaram com a independência da Bahia, em 02 de julho de 1823. O seu heróico gesto serve de exemplo e estímulo para as lutas em defesa da vida e da dignidade de cada pessoa, especialmente os que vivem em situação de vulnerabilidade.
Nas homenagens que lhe foram prestadas quando da celebração do bicentenário de sua morte, o cardeal Dom Sérgio Rocha, Arcebispo de Salvador, Primaz do Brasil, declarou: “Madre Joana Angélica faz pensar na dedicação incansável e corajosa de tantas pessoas que, movidas pela fé, rejeitam a invasão e a destruição de pessoas, casas e comunidades, seja pelo vírus da pandemia, seja por outros “vírus” que contagiam, ameaçam e causam a morte, impedindo alcançar a liberdade e preservar a vida”. Acrescentando: “Precisamos conhecer e valorizar mais Joana Angélica, bem como a história rica e plural da Bahia e do Brasil”.
Segundo o historiador Guerra Filho, “seu gesto, ainda que imbuído de valores religiosos, não pode ser desprezado como um ato político praticado por quem tinha a percepção das injustiças da opressão portuguesa na época”.
Seu nome foi aprovado pelo Senado para ser inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.
Rui Leitão
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