Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

JABOTICABA


08/02/2004

Foto: autor desconhecido.

Jaboticaba, teu olhar noturno

Tenho um sonho de criança, que é um dia me sentar debaixo de um pé de jaboticaba, e ficar chupando a fruta no pé. Mas enquanto esse sonho não se realiza, aproveito que está no tempo, e vou comprando essa pérola negra na feira, para o meu desfrute solitário. Sem dúvida, é a minha fruta preferida! Quase todo dia compro um saco no Retão de Manaíra, e chego em casa com o tesouro, me sento feito menina pequena, e vou procurando as mais pretinhas, as mais redondas e claro, as maiores. Puro Êxtase!

Mas tem também outra frutinha vinda do céu, que é mangaba. Adoro ir na feira aos sábados, antigamente era em Cabedelo em tempos de veraneio no Poço, e compra-la escolhendo a dedo, devorar as mais amarelinhas pintadas, e ficar com a boca grudenta. Sem falar no suco e no sorvete, que além de exótico, é único!

Ah! E os jambos! Aqueles roxinhos de doer. A cor mais linda, cantada pelos poetas, exaltada pelos músicos, e fazendo a moda do verão e das outras estações. Saudades da Av. Almirante Barroso, uma certa casa, onde havia 3 pés no jardim e além de deixar um tapete aveludado de manhã cedo, ainda passava o dia trepada no pé, colhendo os mais suculentos, até os dentes ficarem dormentes, e a boca literalmente rôxa. A cor – fúcsia- já virou até poema de Vitória Lima.

Sapoti é outra das minhas delícias privadas. Ao contrário das Mica-algumas coisas da vida, é boa na época ou fora de época. Rodo as feiras da cidade até encontrá-los. Na estrada de Recife, é parada obrigatória, pelos arredores de Goiana, onde é possível vê-los redondos ou ovalados, mas com a carne macia em tons amarronzados ou café-com leite.

Manga-espada nem se fala! Principalmente aquela do papo amarelo ou pintada de preto, onde o deleite maior é ficar acocorada na feira escolhendo uma a uma. Tem cara de infância, de lambuzado e de banho de mar. Vai bem na salada de rúcula, com azeite extra virgem, ou no molho do Peru de Natal, comilança! E tem os mangoes-chutney, para acompanhar algum prato de curry enquanto assistimos Lula e D. Marisa em visita ao Taj Mahal.

E a majestade da fruta do conde, a qual chamamos de pinha, e que alem de alimentar uma refeição, tem o sorvete mais saboroso do mundo, na Friberg, num fim de tarde, faça sol ou faça chuva. Acho que deveria entrar para os pontos turísticos da cidade, fazendo parte dos pratos principais, que nem li hoje no jornal. Quem sabe para acompanhar um rubacão ou ensopado de caranguejo, já que de buchada passo longe!

E last but not least, ou é o contrário? tem o cajú, fruta esquisita e rançosa para os estrangeiros, mas que tem um ritual sofisticadissimo, de se cortar em rodelas, um pouco de sal, depois de uma lapada de caninha de alambique. Duas doses e já estamos no grau para sair no Bloco Cajú Maluco, organizado por Conceição Serra e Fuba, que tem como slogan carnavalesco, o re-plantio dos cajus-conta, tão abundante nesse Bessa alagado, mas que o progresso, derrubou sem pena. Caju também dá uma boa fritada com sua carne, regada à cajuína dos deuses e das lembranças do terraço lá de casa. A sua divina castanha, quando assada no quintal de um veraneio, é coisa para deixar a gente com a pele queimada, a boca suja de carvão, e a satisfação de ter essas frutas na memória de um lugar e das estórias do coração.


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