Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Iniciando-se na consciência política


16/05/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Em 1963 comecei a tomar gosto por temas políticos. Isso coincidia com meu ingresso no Liceu, que era na época a grande escola de formação política da juventude paraibana. Ali vivi importantes movimentos estudantis pautados na discussão de questões de cunho político.

O ano começava com o povo sendo chamado às urnas para decidir se manteria o regime parlamentarista, implantado às pressas, de forma improvisada, para garantir a posse de João Goulart na Presidência da República, após a surpreendente renúncia de Jânio Quadros. O plebiscito realizado em janeiro deliberou por ampla maioria (oitenta por cento), pela volta do presidencialismo.

Lógico que não estava ainda capacitado para entender tão complicado debate da área política, mas serviu para que fosse despertado para o interesse em buscar informações do processo. Principiava minha vida cidadã, mesmo sem ter direito a voto, mas com direito a aprender a pensar, raciocinar e julgar os assuntos que diziam respeito ao bem estar coletivo.

Isso me faz refletir sobre a importância da juventude se envolver, de maneira mais integrada e participativa, nos acontecimentos políticos. No entanto, é preciso cuidado para não se deixar contaminar pela cultura corrupta que dominou o exercício da política em nosso país. O Brasil precisa ser passado a limpo nesse aspecto. Sem paixões partidárias ou vínculos a interesses particulares e ambições desmedidas pelo poder. Só assim poderemos renovar as esperanças de um futuro onde as diferenças sociais sejam minimizadas, as políticas públicas sejam mais voltadas para atender as demandas coletivas da sociedade, o espírito de cidadania seja o princípio determinante da vida em comunidade. Promovendo a justiça, eliminando os preconceitos e as discriminações, estimulando o senso de responsabilidade civil, fundamentado na coerência, na honestidade e na probidade.

Queremos uma mocidade que saia às ruas consciente do que está defendendo, sem sofrer influências da mídia ou de grupos políticos que a use como massa de manobra. É importante que tenhamos uma juventude com consciência política e discernimento para expressar suas opiniões e abraçar causas em que acredite.

Esse acordar para a política que exercitamos no Liceu foi objeto de preocupação dos militares que assumiram uma ditadura sangrenta que se instalou no país em 1964. Tentaram a todo custo proibir os jovens de manifestarem-se nos assuntos políticos, até porque não admitiam contestação ao regime que adotaram. O problema é que não há quem aprisione conceitos concebidos ou impeça alguém de pensar. Pode, no máximo, inibir as pessoas a não colocarem suas idéias de forma pública, mas fica um sentimento de rebeldia represado que pode explodir a qualquer momento. E foi exatamente isso que aconteceu, quando o povo se cansou do sofrimento causado pelas arbitrariedades da ditadura militar. A história universal é pródiga em eventos que refletem bem esse pulsar revolucionário que fez a mocidade protagonizar acontecimentos que marcaram necessárias mudanças sociais e políticas.

• Integra a série de textos “IVENTÁRIO DO TEMPO II”.

 


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