Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Paraíba

Indumentária e estilo dos anos sessenta 


13/06/2020

O historiador, produtor cultural e advogado Rui Leitão

O mundo vem mudando à medida que vamos avançando na idade. Testemunhamos as transformações que se verificam em todos os sentidos: política, usos e costumes, moda, conceitos, equipamentos de utilidade na vida, etc. Cada época com suas características. A década de sessenta foi um período em que a juventude começou a dar um grito de liberdade, querendo atuar como elemento de mudança em todas as áreas de convivência social. Não há como negar de que as gerações que se seguiram tornaram-se herdeiras das mudanças advindas do movimento socio-cultural daqueles anos. Fui protagonista dessa revolucionária mutação cultural.

Enquanto ideias e propostas de transformação eram postas em prática, os jovens também se afirmavam com peculiaridades próprias na forma de vestir. A mocidade, influenciada pela onda de renovação que tomava conta do mundo inteiro, passava a adotar indumentária e apresentação pessoal adequadas aos novos tempos. Símbolos, gestos, gírias, formavam marcas identitárias daquela juventude. Havia uma atmosfera de novidade que envolvia a todos. Costumes e comportamentos dando um caráter de exotismo ao “moderno” estilo de viver. Foi, sem dúvida, um período de quebra de paradigmas da sociedade, com desprendimento dos padrões pré-estabelecidos em décadas passadas. Os adolescentes ditavam a moda.

Aqui em João Pessoa, independente do que ditasse a moda, era comum que vestíssemos camisas feitas por encomenda na Camisaria Expressa, localizada na Rua Amaro Coutinho, ou ternos costurados na Alfaiataria Grisi, na Avenida Maciel Pinheiro. Sapatos poderiam ser produzidos por solicitação prévia na Sapataria do Seu Gentil, na pracinha que ficava em frente ao Quartel do 15 RI, em Cruz das Armas. No entanto, chegavam as novidades. Camisas Ban Lon, produzidas de fio sintético, moda advinda dos Estados Unidos, mas que eram inadequadas para o nosso clima. Lembro-me que ganhei uma de presente de meus pais durante o Natal. Outra camisa muito em voga, essa num estilo social, era a Volta ao Mundo. As calças eram de um tecido chamado Tergal, que, segundo a propaganda, não amassavam, nem perdiam o vinco. Ou então de brim, que não encolhiam quando lavadas. Surgiram as calças esportivas, tipo jeans, de marcas Lee, Levi´s ou Brim Coringa. Nas lojas fazia sucesso o sapato Vulcabrás. Os tênis preferidos eram da marca Conga. A moda se tornou um instrumento ligado às atitudes inovadoras.

Os anos dourados trouxeram liberdade de escolha para o universo feminino. O estilo unissex ganhou espaço no uso social das mulheres. As moças igualmente passaram a usar blusas e vestidos de Ban Lon. O calor de nosso país fez com que essa moda do Ban Lon durasse pouco tempo. As saias, principalmente as fardas escolares, eram plissadas. Nasceram nessa década a mini saia e o biquine. As calças femininas procuradas como novidade eram a Topeka. O vestido tubinho com estampas psicodélicas ganhou preferência entre elas. No cabelo muito laquê.

Os rapazes se ajustando ao modelo da beatlemania passaram a usar cabelos compridos, não se vestiam mais como seus pais: roupas estruturadas, respeitáveis ternos com gravatas. Jaquetas de couro, topetes e calças jeans, eram, portanto, a definição da imagem de rebeldia dos anos sessenta. Entrei nesse grupo. Não só tive cabelos grandes, como uma cuidada costeleta que ia até o queixo. Tornou-se costume entre os jovens do sexo masculino o uso de anéis e sapatos de salto alto.

Esse era o perfil da juventude dos anos sessenta, fugindo do clássico para um modo mais liberado de se apresentar. A palavra de ordem era “liberdade”, ousando afrontar a sociedade conservadora.


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