Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

“Grand’hotel”


24/01/2014

Foto: autor desconhecido.

A música “Grand’hotel” da banda Kid Abelha, lançada em 1990, composta por George Israel, Paula Toller e Lui Farias, trata de um amor passageiro, meteórico, fugaz, vivido de forma intensa. O título alude à revista de fotonovelas “Grande Hotel”, da década de 50, que em suas histórias românticas sempre havia o famoso “final feliz”, o que não ocorreu na situação apresentada na canção.

“Se a gente não tivesse feito tanta coisa/Se não tivesse dito tanta coisa/Se não tivesse inventado tanto/Podia ter vivido um amor Grand’Hotel”. O “eu lírico” lamenta que os instantes em que se viu envolvido sentimentalmente com sua amada, tenham sido tão apressados em fazer tudo. Foi uma entrega rápida, como se o mundo estivesse próximo de acabar. E trocaram precipitadamente muitas juras de amor, porque julgavam que assim conquistariam mais facilmente um ao outro. Foram tantas mentiras, tantas estórias criadas, tantas ilusões construídas. Se tivessem sido mais pacientes, mais perseverantes, mais racionais, talvez essa história de amor fosse tão feliz como nos enredos das fotonovelas da revista Grande Hotel.

“Se a gente não fizesse tudo tão depressa/Se não dissesse tudo tão depressa/Se não tivesse exagerado a dose/Podia ter vivido um grande amor”. Reconhece que viveram uma paixão e por isso tanto açodamento. Os apaixonados não raciocinam nem fazem planos para o futuro, querem viver intensamente tudo que possam no presente, sem avaliar consequências. Uma paixão cultivada pode transformar-se em amor, mas quando não, ficam só lembranças. Entende agora que chegaram ao exagero em tudo.

“Um dia o caminhão atropelou a paixão/Sem teus carinhos e tua atenção/O nosso amor se transformou em ‘bom dia’”. Pensavam que estavam vivendo um romance verdadeiro, quando ele se viu, de repente sozinho, carente dos carinhos e da atenção da namorada. Sente que aquele envolvimento foi jogado pra trás, foi perdida a relação afetiva, a rotina fez desaparecer as emoções do enlevo. Restaram cumprimentos formais, saudações frias, comunicação sem ternura, sem apego.

“Qual o segredo da felicidade/Será preciso ficar só para se viver/Qual o sentido da realidade/Será preciso ficar só para viver/Só pra se viver/Ficar só”. E se questiona: Será que só se descobre o sentido da vida quando nos vemos solitários, após perdermos o que antes não demos a devida importância? Está aí a chave secreta para alcançar a felicidade? A realidade para ser conhecida tem que ser descoberta por meio da solidão?

* Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.

 


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