Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

Goretti Zenaide – Uma estrela brilha…


08/08/2017

Foto: autor desconhecido.

Agora estou numa sinuca. Triste sinuca. A sinuca de escrever de você Goretti. Sim, pois um dia você me apresentou a alguém dizendo da sua admiração pelo meu texto. Fiquei toda prosa! A sua alegria e entusiasmo eram tão verdadeiros! Que eu quase acreditava! Você não tinha porque levantar minha bola assim de graça. Era verdade e não foi uma, nem duas vezes que manifestou sua admiração pelos meus escritos. E lá atrás. Desde que comecei a botar as unhinhas de fora…., digo os escritos. E sempre que eu homenageava alguém nos textos,você também se manifestava. Agora é chegada a hora da sua partida, e me vejo com essa missão triste, mas que sinto como uma estrela, que lanço a você nesse firmamento infinito de mistérios e saudades.

Não era sua amiga próxima Goretti, mas nos últimos anos, acho que desde os anos 90 que ficamos perto. Fosse através da arte, da política ou das festas. E pelos cantos da vida, estávamos sempre a nos encontrar, trocar abraços, notícias e aí soubemos do bem que sentíamos uma pela outra. E a alegria dos encontros sempre era espontânea. E nesse últimos tempos, tenho aprendido muito sobre amizade. Por entre as lonjuras tem sempre os meios e tantos outros lugares!

Estou triste com a partida tão violenta e urgente dessa jornalista que é uma unanimidade na cidade. O que dizer ainda? Mas afeto e saudades são coisas inesgotáveis. Li tantos textos lindos de sua despedida! Kubitscheck Pinheiro, Walter Galvão, Martinho Moreira Franco, Albiege Fernandes, Gonzaga Rodrigues, Vitória Lima, Francisco Gil Messias e tantos colegas e amigos que falaram da amizade, do amor, da honestidade, altruísmo, da simplicidade, da solidariedade, da seriedade, enfim todos os adjetivos e características de personalidade que buscamos ao longo da vida e que Goretti tinha. Fiquei muito impressionada com a repercussão da sua despedida. Tantas msgs de carinho e admiração! Tu devias de ver! Não que você não fosse digna de tudo isso, mas a gente nunca sabe ao certo quem somos até essa viagem final. Em vida, somos tão banais e corriqueiros, não é? E nós humanos respeitamos tanto quem é modesto! A soberba nos irrita. E aqueles mais discretos são sempre tão admirados. E é uma característica inata. Ninguém aprende a ser modesto. A vaidade é de nascença. Você era aquietada Goretti. Sabia do seu tamanho e da sua força! E a simplicidade é a coisa mais difícil, mais sofisticada e mais rica desse mundo. E você era simples! E todos te admiravam por isso. A palavra ética, foi o que mais li na sua despedida. Em tempos tão sombrios e corruptos, acho que é um tesouro ser assim. E com a mesma simplicidade, você se foi. Corajosa, percebi. Pois ninguém enfrenta um diagnóstico desses impunemente. Foi um choque perdê-la assim, abrupta e sorrateiramente, numa luta des-igual para essa doença triste e capciosa que é o câncer, inda mais de pulmão. Silencioso e que dispensa os cigarros. Quando chega, já vem com sombras e perdas avassaladores. E dores. Muitas. Mas você teve os sopros dos anjos. De se ir dormindo. Justo. Demasiado justo, você se despedir sonhando.

Na sua despedida, fiquei a pensar. Seu corpo inerte , ficou na mesma sala que Juca, meu companheiro, também vitimado da mesma doença, e da mesma violenta partida. Re-vivi muito daqueles dias Há quatro anos atrás. E que ironia Goretti!, pois você sempre me abraçava quando nos encontrávamos pelas festas da vida, ou simplesmente nas galerias do Shopping Manaíra sextas à tarde. Sempre na companhia da sua amiga inseparável Roberta Aquino. Perguntava como eu estava, como que me perguntasse: “como é possível estar diante de uma tragédia dessas?”. Agora foi a sua tragédia Goretti. Sim! Não consigo ser tão espiritualizada para achar que Deus te chamou e que vamos nos encontrar. Sou terrena e cética por demais. Desculpa. Agora, você e Juca se encontraram nas cinzas. Muito para a minha pobre compreensão cética. Mas consigo olhar para as estrelas, sim. E rezo. E agradeço à vida.

Conheci-a já quando eras jornalista renomada. Admiradora das minhas crônicas , estavas sempre a publicá-las no seu espaço do Jornal. Depois, quando um suplemento dominical – Caderno de Mulher, fazia questão de me incluir. Dia Internacional da mulher era obrigação minha lhe entregar um texto. E eu ficava muito feliz de participar da sua coluna tão lida e prestigiada. A última vez, me ligou, e queria uma entrevista rápida para A União. Eu ainda pedi: “não dá para eu enviar depois? Pensar um tantinho?” E você: “Não! Quero agora, de sopapo, com todo o seu improviso.” Então tá! Não tinha um aniversário, livro, viagem, brinde, que você não estampasse meu rosto na sua coluna. E eu ficava a ouvir dos amigos que eu era socialite! A última foi na coluna pós sua partida, feita por Albiege Fernandes – sua amiga e chefe, que numa reverência póstumo, fez uma coluna com amigos, afetos, e sorrisos amorosos. A minha foto foi com Claude, minha irmã, em Buenos Aires, junto ao símbolo maior da cidade, a Floraris Generica, quem sabe lhe oferecendo simbolicamente essa flor gigante e reluzente, do tamanho da tristeza que ficamos todos desta cidade.

Suas festas? Fui à muitas! 1968 e qualquer outro ano era motivo. Fazia um reboliço! Como eras vizinha dos meus tios Celso e Carmen Peixoto, no Miramar, estava também sempre a te deixar convites, pautas, escritos, e agradecimentos na tua porta. Mas a última vez, já foi no Bessa, justo em frente ao Caribessa, quando os meus Brincos…e Tardes…foram te visitar.

Pensando no tempo e na sua talvez recuperação, inadvertidamente, ainda te enviei msg de solidariedade, suplicando uma visita, aflita com seu estado, mas também respeitando o momento de choque, incredulidade que deverias estar vivendo com os seus. Mal sabia eu que, não teria visita nenhuma. Conversa nenhuma. Abraço nenhum.

Mas, naquela sala tão triste, me despedi de você. Te agradeci por tudo. Te desejei boa viagem e que a vida e o amor cuide bem dos seus filhos crescidos e amorosos. E da sua neta que não poupavas fotos e fofuras. Sala cheia. Choros muitos. Tristezas. E comoção. De tantas coisas que você deixou. E o seu silêncio. Respeitamos, claro!

Que as estrelas te acolham!

Saudades!

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, 2 de agosto, 2017
 


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