Walter Santos

Multimídia e Analista Político.

Geral

Folia de Rua, Muriçocas, governos e a realidade


13/02/2007

Foto: autor desconhecido.

Recife– A Quarta-feira chega com a força de sempre: tem Muriçocas do Miramar na parada, então lá vem gente, uma multidão renovando o apego à folia – isso mesmo, à Folia de Rua com ou sem separação assumida. Tal constatação (da divisão) entristece mais do que consola.

Lamentavelmente, embora a massa vá às ruas, as cúpulas não comungam com essa harmonia e se mantêm divididas – do tipo jogando contra a coletividade, mesmo que há algum tempo busque-se em vão promover a superação das vaidades e da gana.

Não, não há negatividade nesta abordagem – me entendam – sou a favor da Folia e do Muriçocas; ao contrário, o sentimento existente diante de nossa realidade divisionista é de lamento continuado porquanto as vaidades humanas e as intrigas político-partidárias se fazem muito maior do que a paz que merecemos.

Nem falo (escrevo) dos equívocos de mistura folia e política!

Depois de passar muitas horas em Recife e Olinda ouvindo pessoas e constatando preparativos, algumas perguntas chegam-me com força incomum:

Por que somente aqui a divisão se impõe maior do que o consenso? Até quando os governos vão agir minimamente no apoio real à nossa folia, ao nosso carnaval tradição? Por que as lideranças brigam mais do que se unem e o que pode estar por trás dessas intrigas? Como explicar o amadorismo no trato organizacional desses eventos?

Longe de domínio absoluto sobre as matérias questionadas, ouso expor alguns conceitos sobre essas indagações.

Vamos a elas: a supremacia da intriga apenas incorpora a cultura de caranguejo vigorando há anos entre nós produzindo o caminho para trás como se 1930 merecesse se manter com ódio de várias partes. Pensamos menos em 2030 – como deveria ser primazia – porque, também, muita gente só sobrevive com o divisionismo, tanto que as lideranças políticas estimulam essa onda;

2) Os governos agem de acordo com a força exigente à frente. Ora, como as organizações promotoras são mais pedintes do que parceiras, os governos atuam com a mesma moeda cooptando os mais frágeis, os mais vulneráveis – pobres ou não. Além do mais, se formos rigorosos levando em conta que, por exemplo, Olinda mexe com R$ 5 milhões de reais só no carnaval, nós inexistimos enquanto organização merecedora de reconhecimento dos grandes carnavais. Somos por assim dizer arremedos de carnavais;

3) As lideranças brigam em campos diferentes; os políticos em torno de exposição sobre pretenso predomínio do grupo A ou B da parada – em nome disso insistem na burrice da divisão; e no caso dos lideres das agremiações isso decorre de vaidades exacerbadas, incultura coletiva e estimulo à tentativa de encobrir a busca de se ganhar dinheiro, embora não assumidamente;

4) O amadorismo é uma conseqüência de nossa involução, de nossa incapacidade de tratar de dinheiro e organização. Na Paraíba, em João Pessoa, particularmente, o “mundo sempre quase cai” quando uma organização arrecada R$ 200/ 300 mil reais. Minha gente, isso é muito para empreendedores ticacas como nós, pois, há muito que vejo Campina Grande mexer com milhões ( 3, 4 , 5 milhoes) nos seus eventos sem contar Salvador e/ou Recife/Olinda – onde essa gente só sabe vive se for com grana à altura da dura batalha que é fazer showbusiness.

Para concluir, estamos ainda no século passado quando setores arraigados insistem numa luta cega pela ideologização da música – do frevo mais, que nunca foi paraibano, e sim do dono/primo rico ao lado, hoje comemorando o Centenário do dito cujo.

Os baianos, para se ter uma idéia, desde 69 que superaram esse pré-conceito burro, besta e inconseqüente porque música boa e ruim tem no frevo, no axé, no pequepê, em qualquer ritmo de Viena, Nova York ou no carnaval de Cardivando de Oliveira, na Rua Santa Julia do bairro da Torre.

Pois, é, enquanto continuarmos assim, seremos uma promessa de desejo de Folia de Rua plena com a grandiosidade do Muriçocas do Miramar incomum – hoje sem ocultar o outro lado da frustração produzida pela divisão inconsequente.

Para onde vamos? Bom para o céu não estamos nessa direção, não.

Mas, um dia isso será superado em nome dos Mestres, dos Deuses, dos Santos e de nós povo da silva. Tomara!


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