Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Política

Foi sim uma ditadura


31/03/2020

Me impressiona ver alguns fanáticos da direita negarem as verdades históricas que os incomodam. Questionar que tenhamos vivido um período de ditadura militar é, no mínimo, uma ofensa às famílias que perderam seus parentes pelo arbítrio do regime a que fomos submetidos por 21 anos. Esse negacionismo estimula a violência, ao relativizar as atrocidades praticadas durante esse tempo. Não consigo compreender como alguém consegue justificar as mortes e os desaparecimentos ocorridos por motivações meramente políticas dos que governaram o nosso país nas duas décadas após o golpe de 1964.

A repressão era exercida como forma política de Estado. Versões eram forjadas para a promoção de torturas e até assassinatos daqueles que consideravam subversivos. Por mais que não queiram, são violações de direitos humanos que podem ser consideradas crimes contra a humanidade. É impossível ocultar seus efeitos traumáticos. Achar que 434 mortes ou desaparecimentos é uma estatística insignificante para classificar os governos militares do século passado como ditadura, é desrespeitar o valor de vidas humanas.

Foi, indiscutivelmente, o pior momento da história brasileira. Estruturas clandestinas de repressão política foram criadas. O DOI-CODI prendendo, interrogando e torturando, e o SNI fazendo espionagem e censura. A institucionalização do castigo aos adversários políticos. Chegaram ao cúmulo de suspenderem o direito de habeas corpus para quem fosse acusado de crime político. Os mecanismos punitivos que tinham em mãos eram perversos. Universidades foram invadidas e artistas sequestrados.

Mas o governo vendia a imagem de um país que estava dando certo. Por isso muita gente insiste em lembrar positivamente daquela época. A propaganda política fez a cabeça da população que não tinha acesso às informações do arbítrio que imperava. Estrategicamente procuravam não dar visibilidade à repressão. A voz da resistência era silenciada nos porões da ditadura e ninguém denunciava isso.

Os arquivos secretos da ditadura que ficaram inacessíveis até pouco tempo, revelaram a sua face cruel desconhecida. Foi resgatado o direito à verdade histórica. Não há como contestá-la. Conhecendo a História evitamos que acontecimentos ruins sejam repetidos. A luta pela democracia não pode permitir que esqueçamos o que aconteceu naquele período. A tentativa de revisionismo da ditadura não encontra amparo nos fatos comprovados na historiografia por documentos e testemunhos. Não é uma questão de interpretação histórica, são evidências que não autorizam a negação da verdade. Não há como deixar de reconhecer que houve quebra da ordem democrática, no uso da violência e do desrespeito aos direitos humanos.

Rui Leitão


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