Geral
Esquerda e direita capitalistas
04/05/2015
Foto: autor desconhecido.
Não se pode mais falar de esquerda e direita como antigamente. As experiências socialistas da União Soviética, China, Alemanha Oriental se foram no tempo. Hoje, tais concepções ideológicas, sociais e políticas são, de fato, autocríticas internas sobre os rumos do capitalismo. As críticas externas passaram a ser apenas no campo das ideias.
Para Karl Marx e Friedrich Engels, à luz do materialismo histórico e da dialética materialista, o socialismo seria o fim ideal para o qual tendiam as sociedades. Nesse mundo, sem luta de classes e sob o primado da propriedade coletiva, prevaleceria a distribuição da riqueza e da renda com justiça e igualdade social, política e econômica.
A humanidade perdeu uma fonte de virtude e esperança no devir. O socialismo concreto não conseguiu criar sociedades mais razoáveis. Historicamente, o socialismo real foi de baixa qualidade, comparado ao que prometiam as suas bases teórico-filosóficas. Mas como negar que se pode dizer o mesmo do capitalismo?
Para John Maynard Keynes, o sistema capitalista seria o máximo no desenvolvimento das forças produtivas e geração de riqueza. Deixava, porém, a desejar na distribuição e apropriação. Com a sua admirável Teoria do Juro do Emprego e da Moeda, Keynes propôs solução para essa deficiência do capitalismo, consagrando-o como o reino da eficiência, igualdade e democracia.
A luta da esquerda, no mundo atual, deve ser contra a crescente concentração da riqueza e da renda. Essa prática antidemocrática é inerente ao capitalismo. Sem êxito nessa luta, falar em igualdade social e democracia política é enganação. Cai o mito da racionalidade e virtudes socioeconômicas. Mas cada país tem os seus problemas.
Os países desenvolvidos estão com altos níveis de endividamento e déficits públicos e desemprego de 7,3%. As suas economias cresceram 0,8% ao ano, de 2008 a 2014. Nesse contexto, ser de esquerda é evitar que os ônus dos ajustamentos econômicos caiam sobre os trabalhadores, aposentados e benefícios sociais.
No Brasil ser de esquerda é lutar por uma agenda objetiva de conquistas relevantes em qualquer sociedade razoável do presente e do futuro. Destaca-se aí a oferta universalizada à população de serviços púbicos de educação, saúde, transporte e segurança, com alto padrão de eficiência e qualidade.
O Brasil passa por uma carência histórica singular de líderes políticos com vocação a estadistas. Sem essa espécie política rara, o país não tem um Estado capaz de viabilizar a sua prosperidade. Por isso não temos um projeto de desenvolvimento nacional. Por que as oposições, tão ávidas pelo poder, não têm propostas?
A esquerda brasileira tem que ser capaz de potencializar a energia política dos movimentos sociais nas ruas. É visível a insatisfação popular com o sistema político-partidário do país e o exercício dos poderes públicos. Aí estão as condições para avanços efetivos, no sentido da criação de uma sociedade razoável.
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