Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Política

Espectros da ameaça golpista


12/12/2022

O Brasil elegeu Lula como seu presidente, em 30.10.22. Bolsonaro, candidato à reeleição, ainda no cargo, em fim de mandato, perdeu e não aceita. Parece se basear no entendimento de que o poder soberano do povo só valia para reelegê-lo…

Esse viés golpista, que já era forte na campanha eleitoral, com as chances declinantes do projeto de reeleição, aumentou depois da derrota. Agora, pretende-se impedir a posse de Lula, no dia 01.01.23, para exercer seu 3o mandato presidencial.

Mesmo à luz da “rica” história dos golpes de Estado no Brasil, a tentativa atual de impor como presidente do país um candidato derrotado no processo eleitoral tende ao fracasso: faltam-lhe as condições necessárias e suficientes…

A tese do golpe é falsa: “fraude em 279.336 urnas ditas não identificáveis, cujos votos deveriam ser anulados, mas apenas para o 2o turno da eleição presidencial”. Às demais, muito favoráveis às coligações bolsonaristas, nada a contestar!

Essa “verificação extraordinária” pedida ao TSE foi negada, pelo seu teor insólito e sofismático.  Provê-la significaria validar suas premissas como falsas e verdadeiras, nas eleições de 2022, e a alegada vitória de Bolsonaro com 51% dos votos!

Nos golpes à brasileira, com ou sem razão, a adesão das forças armadas é essencial. Não é provável que os comandantes generais deem ou apoiem um golpe para colocar um capitão reformado, derrotado pelo voto, como chefe do Poder. Isso é puro devaneio!

Sem contar com as forças armadas, Bolsonaro não deflagra um autogolpe. Os EUA não apoiam tal ruptura institucional contra o presidente recém-eleito democraticamente! Os militares são cautelosos, bem informados e sabem dos ônus para o país…

Em 1964, ante o conturbado quadro nacional, os militares recorreram à “ameaça comunista” para implantar o poder ditatorial que exerceram até 1985. Os EUA deram amplo e relevante apoio. Agora são contra um golpe de extrema direita no Brasil.

À luz das evidências, os anseios golpistas bolsonaristas são antidemocráticos e não têm bases popular, legal e politico-institucional, nem militar! São rompantes típicos de maus perdedores, sem chance de mudar os resultados da eleição presidencial.

Bolsonaro não conseguiu se reeleger pelo voto popular; o TSE negou suas contestações dos resultados eleitorais, por falta de fatos e fundamentos legais. Se, além da vontade, ele tivesse apoio militar e do Congresso já teria dado um autogolpe.

Bolsonaro ganhou grande dimensão nacional, em 2022, como presidente, por suas ações eleitoreiras: benefícios sociais (R$41bilhões) e o bilionário orçamento secreto sob comando do Senado e Câmara para atender interesses de deputados e senadores.

A liderança de Bolsonaro terá grande queda. Urge analisá-la com ele não tendo poder para distribuir recursos, cargos e interesses púbicos. A extrema direita autoritária, seu legado político nefasto, encolherá muito, em favor do centro e direita democráticos.


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