Política
Erik Voegelin e o mundo atual
12/06/2025

Muito provavelmente meus cinco leitores não vão gostar do conteúdo da coluna de hoje, principalmente um ranzinza que mora no Bessa. Eles acham que este espaço deveria apenas tratar de questões econômicas e se abstrair de questões políticas. Porém, nos primórdios da ciência econômica, esta recebia o nome de Economia Política. Isto porque o entendimento era que a riqueza de uma nação dependia das leis e instituições políticas. Para eles não bastava estudar apenas a produção de bens, era preciso analisar o papel do governo e do ambiente político. Posteriormente, o termo política foi retirado, mas a ideia ainda permanece.
A motivação de abordar a questão política aqui foi uma conversa que tive recentemente. As festas juninas já foram iniciadas nas cidades nordestinas. Na cidade de Bezerros-PE, na localidade de Serra Negra, teve o Arrastão Sanfônico. Eu tive o prazer de participar junto de amigos diletos. Lá, entre um forró e outro, conversamos muito. Entre essas conversas, tivemos uma que espelha muito o momento político atual no Brasil e no mundo.
Várias pessoas, na festa e, porque não dizer, no globo, acham que o mundo atual está perdido, que a democracia não está funcionando, que o judiciário está impondo uma ditadura, e é urgentemente necessário um governo autoritário alternativo para sua salvação. Isto me fez lembrar o filosofo e cientista político germano-americano Erik Voegelin. Este em seus estudos identificou um “espírito gnóstico” na modernidade, ou seja, uma tentativa humana de criar uma salvação neste mundo, através da razão, ciência, ideologia ou política. Ou seja, o mundo atual está corrompido e pode ser transformado ou redimido por meios humanos. Está transformação evidentemente tem consequências econômicas.
Várias tentativas de transformar a realidade estão sendo, ou tentaram, ser implementadas. Neste país, até pouco tempo atrás, tivemos um governo que vivia dizendo que a sociedade brasileira estava corrompida por uma corrente política e era necessária uma intervenção militar para contornar a situação deprimente que vivíamos. Até hoje afirma-se que o Supremo Tribunal brasileiro impõe uma ditadura.
Nos EUA o atual governo eleito identifica que os valores morais e cristãos da sociedade americana estão sendo deturbados por excessos de ativismo social ou do politicamente correto, com mudanças em linguagem, cultura ou educação, genericamente denominado de movimento WOKE.
As intervenções para consertar o mundo estão se transformando em formas modernas de religião política, onde o Estado assume o papel de Deus, tal como preconizou Voegelin em seus escritos. Esses sistemas prometem a “salvação” e a “pureza moral”. São impostos de forma arbitrária e, muitas vezes violentas, como está acontecendo neste momento na cidade de Los Angeles – California, comportamentos com a argumentação que se busca consertar as imperfeiçoes morais e econômicas. Perseguem pessoas que defendem ideias diferentes só porque não pensam assim. Prenderam um estudante na universidade Havard que escreveu um artigo com visão alternativa ao que estabelece o governo, justamente o governo que defende a liberdade de expressão. Prendem e deportam pais separando-os dos filhos. Esquecem que são cristãos e que a essência do cristianismo é a solidariedade e amor ao próximo.
Na comemoração do Dia de Portugal, também sendo denominado de Dia de Camões, um ator que representou uma peça de teatro em homenagem a Camões foi severamente agredido por neonazista que vociferavam “Portugal apenas para os portugueses”. Para estes a presença de imigrantes na sociedade portuguesa deturpa a cultura portuguesa.
Seguindo Voegelin, a ordem justa não pode ser imposta por construções arbitrárias, mas deve emergir da experiência vivida e do reconhecimento de uma ordem harmônica que leve em consideração que as sociedades são heterógenas e que está heterogeneidade é um aspecto positivo na convivência humana.
A história está repleta de exemplos de tentativas de consertar as sociedades, como o nazismo e comunismo, que resultaram em desastres humanos. Quase sempre em genocídio. O ex-presidente Jair Bolsonaro em seu depoimento perante o Supremo afirmou que os radicais de 8 de janeiro eram malucos. Então, que Deus nos salve destes malucos.
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