Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Brasil

Enfrentemos o projeto de destruição da República


25/11/2023

Retrato de 1980 do escritor italiano Primo Levi (Foto: Marcello Mencarini/Leemage)

Ainda não saímos totalmente do difícil momento político que vivemos, quando forças reacionárias tentaram, a qualquer custo, destruir a República. Permanecem as cumplicidades dentro do Poder Legislativo trabalhando com esse propósito. As classes dominantes continuam desenvolvendo esforços para que a desigualdade social não seja atacada pelos que querem um país mais justo e igualitário. A mídia tradicional cumpre o seu papel de colaboradora da tarefa de desmoralizar as instituições democráticas, atuando como elemento central da tentação totalitária.

Insistem, por diversas formas, fazer valer a lei do poder absoluto, arquitetando golpes contra o Estado Democrático de Direito. São postas em prática estratégias políticas determinadas em se posicionarem acima da Constituição. Movidos pela manifesta ambição, os sedentos de poder, excitados por paixões desmedidas, dão curso aos projetos que visam desfigurar a nossa democracia. Mostram-se obcecados em desconstruir o país, reduzindo a pó nossa soberania.

Cabe, portanto, às forças populares e democráticas exercerem a exigência histórica da resistência. A sociedade brasileira precisa, urgentemente, sair dos efeitos anestésicos a que foi submetida nos anos recentes pelos inimigos da democracia. Enfrentar, com coragem, o acelerado processo de retrocessos nas políticas sociais que os outsiders que assumem o governo buscam implementar. A destruição dá-se por atos e palavras. A linguagem da ameaça produz receios e passividade. O sentimento de perplexidade não pode nos conduzir à paralisia, indiferentes aos eventos inauditos com os quais nos deparamos e nos causam sentimentos de desamparo cognitivo.

O escritor italiano Primo Levi no seu livro A Assimetria e a Vida, expõe com sabedoria essa situação que vivenciamos: “Cada época tem seu fascismo; seus sinais premonitórios são notados onde quer que a concentração do poder negue ao cidadão a possibilidade e a capacidade de expressar e realizar sua vontade. A isso se chega de muitos modos, não necessariamente com o terror da intimidação policial, mas também negando ou distorcendo informações, corrompendo a justiça, paralisando a educação, divulgando de muitas maneiras sutis a saudade de um mundo no qual a ordem reinava soberana e a segurança de poucos privilegiados se baseava no trabalho forçado e no silêncio forçado da maioria”.

Ainda bem que a nossa Constituição contém barreiras importantes de contenção do ímpeto da desfiguração da nossa democracia.


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