Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

Empresários: Cuidado com o andor…


16/12/2016

Foto: autor desconhecido.

A recessão econômica do Brasil se agrava com notória tendência à depressão. Os trabalhadores já deram, forçosamente, suas cotas de sacrifício ao altar dos negócios capitalistas: formação de um imenso exército de reserva de mão de obra, salário real em queda e uma procura cada vez mais crescente por ocupação.

Esse cenário de superexploração do trabalho se completa com a política fiscal-monetária do governo Temer. A criação do teto de gastos governamentais, já aprovada, reduzirá e piorará os já precários serviços públicos à população. A reforma da previdência, se vigorar como foi proposta, condenará milhões de empregados a uma espécie de trabalho forçado até a véspera da morte.

As classes operárias e o governo pouco podem fazer para reacender o fogo morto da economia brasileira. Os trabalhadores, sob os impactos dos altos níveis de desemprego e endividamento, tornaram-se freios e não aceleradores do consumo. O governo federal, ao optar por um ajuste fiscal superortodoxo a qualquer custo, zerou a capacidade de expansão dos seus gastos e investimentos, em valores reais.

Diante desse quadro, o caminho de solução depende da reativação dos investimentos e expansão da produção pelo setor privado. Essa motivação não se faz presente. Os nossos capitalistas, estrategicamente, fingem não saber que eles ganham com o que gastam, diferentemente dos trabalhadores que só gastam com o que ganham.

Essa falta de iniciativa privada faz parte de uma lógica perversa. A retração da economia só seria resolvida com a criação de altos superavit primários no setor público e as reformas da previdência e legislação trabalhista. Assim, com pesados ônus sociais e perda de direitos trabalhistas, criar-se-ia um ambiente próspero, com o governo podendo investir e os empresários expandir seus negócios com altas taxas de lucro.

O governo fez uma aposta de alto risco, com a regra do seu rigoroso limite de gastos. Se continuarmos com recessão e inflação em queda, o deficit público explodirá: o aumento das despesas federais superará o das receitas. Por exemplo, com o IPCA de 6,5% em 2016, se em 2017 o PIB cair 3% e a inflação for de 5%, essas despesas crescerão 6,5% e as receitas em torno de 2%, se não houver aumento da carga tributária.

Sem crescimento do PIB, a partir de 2017, a situação econômica e fiscal do país tende para um violento caos. Ocorre que a recuperação depende exclusivamente de decisões das empresas privadas. Se estas só voltarem a investir após a implantação das reformas trabalhista e da previdência, o Brasil quebrará de vez, muito antes.

Os empresários do setor produtivo e os detentores de grande riqueza financeira têm que pensar mais em evitar a depressão econômica em marcha do que nos seus interesses imediatos. Afinal as esperanças que restam são a reanimação dos investimentos privados e a utilização da capacidade de produção ociosa.

Há duas providências essenciais: quedas maiores e mais rápidas da taxa básica de juro e a retomada dos investimentos produtivos. Trata-se de ações compatíveis com um ciclo de prosperidade: queda dos juros, elevação da demanda por bens e serviços, da produção e da receita do governo, queda do deficit público e dos juros …
 


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