Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

Eleições – Uma Vivência Pessoal


28/10/2014

Foto: autor desconhecido.

Na minha meninice/adolescência, vivi as décadas de 60 e 70. Tempos sombrios de golpe militar, AI5, e ditadura militar. Não tive o prazer de votar aos 16 anos e o meu primeiro passaporte não era válido para Cuba. Aqui na Paraíba era a época das Ligas Camponesas, de O País de São Saruê,e dos movimentos estudantis com Eduardo Jorge e seus cabelos ao vento. Na minha casa, não tínhamos a Política como algo orgânico e importante para se pensar e exercer.

Já adolescente convivi numa casa política, onde comecei a ouvir o galo cantar, mas não sabia bem onde, tomando tento com vocábulos nunca dantes conhecidos e muito menos vividos: preso político, tortura, exílio, militares, comunismo, socialismo, direita, esquerda e que tudo mais fosse para o Inferno! A partir daí tive o privilégio de sempre encontrar na minha vida, pessoas comprometidas com o bem estar social e a luta pela igualdade e Justiça Social.

Não votávamos! E mesmo para vereador, lembro que não via campanha, não tinha participação, e política era assunto proibido. Já adolescente, trouxe um pôster de Che Guevara escondido na bagagem, com medo de ser presa no aeroporto. E assim foi, de governador biônico até Tancredo Neves, anistia e os grande movimento de abertura. E a volta de Fernando Gabeira e sua sunga de crochê rosa. Nessa época, 1983, nascia meu primeiro filho Lucas, e ao invés de ir às ruas, eu ia às fraldas e aos peitos, amamentar. Mas não sem antes receber pelo correio, uma camiseta com o slogan – oPTei –

Com os primeiros passos para a fundação do PT em João Pessoa, e meu encontro amoroso com Juca, que chegava de São Paulo para fazer esse movimento na sua vida, e aos meus ouvidos me confessava que, secretamente, tinha voltado em busca da mulher amada!! (e eu queria acreditar!), foi possível fazer parte (mesmo perifericamente), me envolver (de longe), mas mesmo assim, já mulher feita, participar um pouco da chamada vida política. Filiei-me ou PT nessa época e, tentei ardorosamente ir às reuniões nas preciosas tardes de sábados, seminários aos domingos, plenárias aos feriados, Encontros de Diretórios, leitura de documentos, compreensão das sutilezas das muitas tendências, e até fazer campanha de rua, panfletagem nos sinais (Juca inaugurou esse modo de corpo a corpo), santinhos lúdicos e irreverentes, mas também, logo logo descobri que não tinha paixão por aquela ciência difícil e complexa, cuja dinâmica exigia presença, envolvimento e principalmente paixão.

Fui me afastando sorrateiramente, para em seguida querer me des-filiar. Achava-me outsider na vida partidária e não me encaixava no perfil militante petista. Juca me explicava que todo perfil era perfil e que o Partido precisava de participantes da política fosse qual fosse o engajamento. E eu seguia acreditando nele . Acompanhei todo o percurso de abertura e consolidação do PT até chegar ao Governo Presidencial. Não sem antes ir à posse de Luisa Erundina eleita de virada para prefeitura de São Paulo, e me larguei daqui até Uiraúna, comendo broa com Suplicy, para celebrar uma das vitórias mais espetaculares dessa nordestina brava.

Participei mais ativamente das duas campanhas presidenciais de Lula. E de broche em broche e de Lula lá, me emocionei por demais nos comícios aqui e alhures. E lembro de um tempo em que no Brasil, tinha um vereador pingado desse partido. Fui à festa de Derly Pereira, quando este venceu aqui para o seu mandato na Câmara Municipal, até a felicidade máxima quando Juca foi eleito também vereador, e nesse trabalho, deixou registrado sua marca do :bom cabrito é aquele que berra! E faz! Quando me incomodava com posições retrógradas, homens machistas, mulheres submissas, certos populismos, e todas as outras características das pessoas, Juca sabiamente me dizia: “D. Ana, natureza humana! E um Partido não é um santuário, é uma parte da sociedade”. Se despediu da vida afirmando que, o maior erro do PT foi querer passar uma mensagem de que estava acima do bem e do mal. Juca entendia Maquiavel, Bobbio e tantos outros filósofos. Mas entendia mesmo era de gente!

Nesses anos todos, só questionei. E não foi pouco. Brigávamos tanto que uma ocasião ele abriu uma plenária do PT, quando sua tendência era minoria ( de três ou quatro correligionários: Ele, Walter Aguiar, Vaneide e Linhares) e mais uns gatos pingados, e disse: “Sou tão minoria que, nem minha mulher consegui convencer!” E era verdade. Foram muitas discussões, decepções, e tudo o que faz uma vida ligada à Política como a dele, e eu como companheira e mulher. Queria entender, discordar, e ter meu lugar ao sol, como assim sou. E sabia que, do portão para dentro, e para fora também, discutíamos de igual para igual. Mas claro, não era uma estudiosa de excelência do assunto como ele, nem a Política nunca foi o assunto das minhas prioridades, e a ele, recorria para que me ajudasse a compreender todo esse mundão vasto e indecifrável. Admirava-o. Respeitava-o, assim também como a muitos e muitos que hoje fazem os Governos do PT.

Juca foi-se. E muito antes da sua partida, já era bastante crítico ao PT, mas leal a um tanto de coisas,mas jamais se absteve a enfrentar os fatos. Mas se aqui estivesse, e mesmo com todas as críticas, teria feito campanha para Dilma ferozmente. E hoje, estaria feliz de doer. Era profundo admirador de Lula. E tinha vontade política de ver o PT ainda fazer as reformas necessárias. Foi solidário com alguns amigos pessoais que foram punidos. Mas nunca acreditou em Mensalão. Sabia das armadilhas das campanhas, dos meandros de caixa 2, e do que os fatos políticos podiam realizar. Mas não era ingênuo nem bobo tão pouco para saber dos erros de todos eles. Mas isso é estória para advogados, órgãos reguladores, e polícia federal.

Hoje, quando vejo a democracia de uma eleição acontecer num país gigante feito o Brasil; quando me emociono em todas as 7 eleições a escutar o barulho da urna eletrônica, e quando vejo o Nordeste Brasileiro dar essa vitória linda à Presidenta Dilma, não poderia deixar de saudar meu querido Juca, e ao mesmo tempo ter prazer de re-lembrar tantos anos de luta: a dele, e minha como observadora e uma participante moderada, e fui lá na festa pá sim! De bandeira em punho, saudar a vitória de todos os brasileiros ao comemorar a festa da democracia e desejos por um país mais justo e desenvolvido.

Nordestina sim sinhô! Ofereço minha alegria da vitória de Dilma e minha esperança a você Juca!

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, 27 de outubro, 2014


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