Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

É Tempo de São João


01/07/2010

Foto: autor desconhecido.

E embora o nordeste todo esteja em festa, olho pela minha janela e vejo as bananeiras plácidas do quintal do vizinho. Por certo Bananeiras, a cidade, deve de estar em polvorosa…. Do forró, da festa de rua, e dos políticos atrás de voto. Solânea? Lembro dos tempos em que Teca e Claude, minhas irmãs, chegavam de pés inchados de tanto dançar. Nunca tive esse privilégio. Não conheci muitos parceiros dançarinos. Se fosse casar de novo…. primeiro requisito? Sabes dançar? Homem que não dança, dançaria.

Mas tive os meus dias de São João. Dancei muito. Fui noiva. Quadrilha de rua. Mãos geladas pela troca de mãos no anarriê e balancês..Comi muita pamonha de padaria (mamãe só sabia fazer canjica); perambulei por Campinha Grande e o seu Maior São João do Mundo…em tempos não tão favoráveis, é bem verdade, mas confesso que me comportei direitinho. Assim que nem no conto Bliss da escritora Neozelandesa/Inglesa Katherine Mansfield. Nem em êxtase nem em estado feliz, mas olhando uma pereira do lado de fora, capaz de me sentir forte e poder olhar o palco com Flávio José cantando um caboclo sonhador.

Durante algumas vezes, freqüentei a granja de Marcinha Lucena. Lugar belo e acolhedor. Gente da cultura e afeto, e uma sanfona tocando e uma rabada no fogo. Não como carne. Embora tenha acabado de almoçar minhas bistecas preferidas, de porco, temperadas com alecrim, acompanhadas de maças cosidas e molho de hortelã.

Não sei como vivenciar esse dia 24. Os filhos? Cada um no seu destino. Já assisti as notícias da copa; já corrigi provas; já preparei conversas; já ouvi e vi o DVD de Simonal (um espetáculo à parte – Sacum dim sacum dá…); já tomei cerveja gelada; já pensei na vida; já enfrentei às horas; já lavei pratos e fiz salada de agrião com molho de mostarda, e , continuo com esse sabor amargo de que a festa acontece em algum lugar do passado, e eu não fui convidada….Mas confesso que o espírito junino já anda esmaecido. Não me contagio com essa música forrobodó, com essa mentalidade chapéu country, botas e tantos outros adornos que têm sim um outro significado que os vestidos de chita de outros tempos. Não estou com saudosismos baratos, e se os tempos mudaram, que venham outros tempos, mas nesse São João….passei em brancas nuvens.

Lembro dos São João com filho pequeno. Umas 20 festas ao todo. Bota remendo de chita nas caças jeans dos meninos; faz sandwiches; compra traque; chuveirinho; e tudo tão só…Nesses acontecimentos, os pais estão sempre tão ocupados com coisas sempre tão importantes! Tardes e noites intermináveis segurando umas certas camisas xadrez, e quase sempre os meninos vinham dormindo exaustos, dentro do meu fusca tão frágil, tão desconcertante…Mas eu? Tão sempre alegre, dançando, com minha saia de chita rodada, sim, por que não podia ouvir um forró, e eu literalmente olhava para o céu meu amor.

E assim como Bertha, de Bliss, olho pela janela, e vejo lá fora, não uma pereira florida, natureza morta, mas vejo uma tarde ensolarada, meu quintal exuberante de matos e descasos do jardineiro, mas a verdade é que, não consegui fazer um jardim de verdade; e vejo também essa cidade silenciosa e quieta, talvez assim como estou agora. Quieta.

Continuo a pensar que sou uma minhoca, e dou boas gargalhadas, pois assim como no título do maravilhoso filme de Woody Allen, Tudo pode dar certo!

E agora o que vai acontecer? Exclamou Bertha. E eu antecipo. Tudo pode acontecer. O Brasil ganhar, perder a Copa; as eleições….e não sei nada sobre quem ganha e quem perde; minha irmã Teca chegou para a gente celebrar nosso afeto de irmãs; e quem sabe continuaremos minhocas.

Ora bolas! Minhocas!
E Viva São João! Sem encantamentos, mas com um bom Pé de Moleque na mesa.

Ana Adelaide Peixoto João Pessoa, 24 de junho, 2010
 


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