Cultura

E PODE? O DIABO É O PAI DO ROCK


27/01/2020

Foto: Presidente da Funarte, Dante Mantovani, e o roqueiro Raul Seixas, morto há 31 anos, autor do Rock do Diabo

A Fundação Nacional de Artes (Funarte) divulgou no dia 23.01, o edital do Prêmio de Apoio a Bandas de Música 2020. Entre os requisitos, está a proibição ao gênero rock. Dias antes, um vídeo publicado em seu canal no YouTube, mas recentemente apagado, o presidente da Funarte, Dante Mantovani, diz que “o rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto”. “A indústria do aborto por sua vez alimenta uma coisa muito mais pesada que é o satanismo”, completou.

O veto do Edital nos leva a questionar se o rock é mesmo ofensivo, a tal ponto que bandas de música não o possam tocar. Pior, nos leva a perguntar, por exemplo, por que igrejas evangélicas, as mesmas a que seguem a maioria do Governo ditador, incluem em seus rituais, envolvendo hoje ritmos fortes e dançantes como o forró, o rock, e outros. E pensar também nos grandes eventos que estimulam a economia como o Rock In Rio, o Lolla Palooza, e muito outros pelo país a fora. O que seria, de agora em diante, se o Governo de hora para outra resolvesse veta-los?

Sim, estamos diante de um Governo fascista. O que significa uma ideologia política ultranacionalista e autoritária, caracterizada por poder ditatorial, repressão da oposição por via da força e forte arregimentação da sociedade e da economia. O fascismo despreza a democracia, a liberdade política e a liberdade de expressão, mascarado no autoritarismo, a que confunde seus seguidores na intenção de que, subordinados à hierarquia do poder, criem um sentimento de nacionalismo elitista, e estejam absolutos em suas conclusões, e particularmente com o poder, representados por um líder forte, um ditador ou o militarismo. Pior ainda, defendem as lutas e o conflito armado. Em estudos sobre o comportamento ditador e a propaganda do fascismo, Freud e outros estudiosos apontam a irracionalidade.

Diante de tão absurdas atitudes e contradições, a verdade é que o Governo Bolsonaro vem, de um ano pra cá, desconstruindo uma série de conquistas democráticas em favor da nação. As atitudes do Governo demonstram clara homofobia, racismo, a censura e a perseguição a jornalistas, enfim…
Moro atualmente em um bairro onde existem muitas igrejas evangélicas, e que na prática lançam seus discursos em alto som, irritante mesmo, como se fôssemos obrigados a aceitar suas propostas, ou como diz um amigo, porque acreditam que Deus é surdo, e gritam muito.

O fato é que dia desses lembrei-me do Elvis Presley, Beatles, Chuck Berry, Cazuza, Frejat, Legião Urbana, Paralamas, Ozzy Osborne, e resolvi (talvez em forma de vingança, mesmo), combate-los ao som d´A Mosca na Sopa e o melhor de Raul Seixas. Para mim, o melhor filósofo e roqueiro brasileiro de todos os tempos, morto há 31 anos, e que há 40 anos lançou um dos mais contestadores títulos de rock, o Rock do Diabo, perguntando se é ele mesmo (o diabo), tão feio o quanto parece. E como não se pode apagar a história, para horror dos fascistas, a letra de Raul está escrita, e nela a afirmação de que “O diabo é o pai do rock, é pop, é toque, é forte”.


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