O presidente Lula tem se mostrado um líder interessado em combater posturas autoritárias, contrárias ao exercício da democracia, bem como atuando como um pregador da paz no mundo. Assim tem procurado ser um negociador visando estabelecer o cessar fogo nas guerras contemporâneas. Ao escrever sobre o conflito do Oriente Médio, registrando a postura do presidente Lula no esforço de buscar um ambiente de paz naquela região, fui interpelado sobre o que tem acontecido no regime ditatorial da Nicarágua, onde jornalistas e religiosos têm sido presos arbitrariamente. A crítica do interpelante era de que o nosso presidente se mantém distante das atitudes autoritárias de Ortega, com quem, percebe-se, ter uma relação de cordialidade.

Fui então pesquisar sobre o assunto. Em junho deste ano, Lula se manifestou sobre a prisão de um bispo católico naquele país: “Pretendo falar com o Daniel Ortega (presidente da Nicarágua) para liberar o bispo. Vou tentar ajudar, se puder ajudar. Nem todo mundo é grande para pedir desculpas; a palavra é simples, mas exige grandeza”, disse Lula a jornalistas no hotel onde estava hospedado, próximo ao Vaticano, antes de viajar a Paris, na França. Não encontrei mais notícias a respeito.

Seria interessante que seu posicionamento se afirmasse de forma mais crítica em relação ao comportamento do ditador Daniel Ortega, que insiste em perseguir jornalistas e católicos que se manifestam contra o seu governo, vivendo sob constante censura, ameaças e com medo de serem agredidos. A mudez de Lula quanto aos abusos de poder vividos naquele país pode comprometer a imagem internacional que vem construindo como exemplo de estadista, democrático e pacifista.

A igreja católica vem sofrendo crescente repressão do regime de Ortega, porque deseja uma igreja silenciosa, alinhada com o poder. Isso não condiz com a personalidade política do nosso presidente. E ele, em sendo hoje uma liderança respeitada no mundo inteiro, bem que poderia interceder, de forma mais efetiva, para combater essas perseguições políticas. Pelo menos declarar publicamente sua contrariedade a essas práticas de autoritarismo do governo Ortega.

Qualquer ditadura deve ser combatida, seja ela de direita ou de esquerda. Quem não cumpre os tratados de direitos humanos merece ser denunciado e reprovadas suas atitudes. Claro que Lula, assim como não admite interferência de outras nações ao seu governo, também não deverá intervir em outros governos, mas poderia ser mais incisivo no combate aos que afetam os direitos humanos de seus povos. Não pode ser complacente com a agonia da democracia em qualquer que seja o país. Silenciar pode ser compreendido como aquiescência. E sabemos que essa não é a sua posição política. Sou admirador entusiasmado do presidente Lula, e isso me dá o direito de questionar quando ele não se manifesta explicitamente contra os que agem como tiranos, principalmente os que se posicionam ideologicamente à esquerda.