Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Dom José Maria Pires e a luta do povo de Alagamar


16/10/2015

Foto: autor desconhecido.

A Arquidiocese da Paraíba assumiu ostensivamente a luta em defesa dos agricultores de Alagamar. Dom José Maria Pires foi responsável por sensibilizar a opinião pública na busca da solidariedade aos trabalhadores rurais ameaçados de expulsão daquele latifúndio. A ação desenvolvida sob a sua coordenação estava fundamentada na “Carta Pastoral sobre o compromisso da Igreja com os fracos e oprimidos”, que havia escrito em 1978. Era o que alguns chamavam de Teologia da Enxada.

Ao tomar conhecimento da visita que o governador Tarcisio Burity fizera às propriedades que formavam as fazendas Reunidas de Alagamar, o arcebispo da Paraíba manifestou seu apoio à decisão de promover o desarmamento de todos os que transitavam por aquela área e ali instalar um posto policial. Entendia Dom José Maria que “essas medidas poderiam contribuir para restaurar a tranqüilidade que desejavam as famílias de Algamar”.

Costumava ir ao local do conflito com freqüência, como forma de proteger os agricultores ali assentados, estimulando-os à resistência em defesa dos seus direitos e da manutenção dos seus costumes e tradições, mas sem usarem da violência. Certo domingo ao celebrar uma missa, apresentou aos que participavam daquele ato litúrgico algumas mandiocas que havia colhido na propriedade e falou: “Vamos fazer nosso ato penitencial. Vocês já viram o pecado? Olhem aqui o pecado: o gado comendo a mandioca que alimenta o povo. Então o pecado vai passar de mão em mão. As pessoas vão pegar no pecado. Depois o pecado volta aqui ao altar para que eu possa dar a absolvição”.

Em resposta a acusação que lhe fora feito pelo proprietário rural Heráclito Veloso Borges, qualificando a ação pastoral como um desvio ideológico para orientar os agricultores a se rebelarem contra os patrões, Dom José Maria Pires declarou: “O que a Arquidiocese tem feito é colocar-se decididamente ao lado dos agricultores, na defesa dos seus direitos de primeiros ocupantes de uma terra que pertence mais a eles, que dela precisam para seu sustento, do que aqueles que a adquiriram com dinheiro, mas podem viver sem ela”.

Os trabalhadores rurais de Alagamar tiveram, portanto, na figura de Dom José Maria Pires o seu mais importante advogado na luta em defesa de suas causas. Em nenhum momento ele se deixou intimidar pelas forças políticas da ditadura, protetoras dos poderosos que se arvoravam donos daquelas terras.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.


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