A vida é mesmo uma imitação da arte. A exemplo da canção de Oswaldo Montenegro, A lista, meus amigos começaram a partir com mais frequência e sem passagem de volta.

Alguns, muito próximos e presentes como Gil Sabino, outros mais constantes e parceiros como Martinho Moreira e o restante parte de um grupo seleto que me viu crescer num tempo sem internet e de pouca memória.

De um modo geral, são todos personagens de um livro que acabei de escrever, com os quais convivi à sombra de muitas árvores que plantamos e muitos deles viram as minhas filhas nascer.

Na verdade, com a morte deles se foram os dedos e os anéis e sobrou pouco para contar. Sobrou carinho, por exemplo, e por que não dizer compaixão, e faltou amor.

Parte deles se foi antes de cumprir a sua missão e deixou muita coisa pela metade. Com isso esqueceram de perdoar muita coisa e de revelar seus maiores segredos.

Não que isso tenha importância para quem vai, mas pode ser muito significativo para quem fica. Como bem disse um amigo escritor, que até hoje se ressente de um beijo de sua mãe que nunca recebeu.

E tudo isso me veio à mente agora ao recusar o convite para visitar um amigo de infância que, acometido de uma doença grave, está em fase terminal.

Seria, por assim dizer, o encontro e a despedida, igualzinho a canção de Milton Nascimento e Fernando Brant, onde eles falam que o trem que chega é o mesmo trem da partida.

Com uma única diferença. Eu não poderia pedir para ele me mandar notícias do mundo de lá.

Quando muito poderia lhe dizer o que eu penso da amizade e como eu acho ela fundamental para a nossa vida. Mais importante até mesmo que o amor, que tem um preço demasiado alto para acontecer.

Por isso, fiz questão de cultivar todos esses anos amizades, mesmo quando colhi espinhos ou quando confundi o amor com a amizade de uma mulher.

Pouco importa, portanto , que a lista não pare de crescer.

Até mesmo porque, no fundo ela é apenas uma lista de espera.