Alek Maracajá

Analista de dados

Tecnologia

Desafios da Conectividade no Brasil: 29 Milhões Desconectados e as Surpreendentes Barreiras à Inclusão Digital


05/11/2024

O Brasil ainda enfrenta o desafio de incluir digitalmente 29 milhões de pessoas que não são usuárias de Internet. Curiosamente, a maioria dessas pessoas, 24 milhões, ou 83%, vive em áreas urbanas, incluindo regiões periféricas, o que reflete a complexidade desse cenário. Os dados vêm da mais recente edição da pesquisa TIC Domicílios 2024, conduzida pelo Cetic.br e NIC.br, que celebra seus 20 anos de existência e contribuições para o mapeamento do acesso digital no país.

Qual o Perfil dos Desconectados no Brasil : Esses brasileiros desconectados têm, em sua maioria, menor nível de instrução: 22 milhões cursaram até o Ensino Fundamental (76%), e outros 6 milhões têm o Ensino Médio (21%). No perfil demográfico, destacam-se pessoas pretas ou pardas (59%), pertencentes majoritariamente às classes DE (55%), mas com uma presença significativa também na classe C (41,4%), e são predominantemente mulheres (55,2%).

O estudo, apresentado nesta quinta-feira, 31, revela que quase metade dos desconectados possui mais de 60 anos (48,2%) e reside nas regiões Sudeste (42,4%) e Nordeste (27,6%), as áreas mais densamente povoadas do país. No entanto, as regiões Norte e Nordeste continuam enfrentando desafios maiores de conectividade: enquanto o Sudeste tem mais cobertura, o Norte registra apenas 78% de domicílios conectados, indicando uma necessidade urgente de políticas de inclusão digital voltadas para essas áreas.

Entre aqueles com acesso, o celular continua sendo o principal dispositivo de conexão, utilizado por 99% dos usuários. A televisão vem em segundo lugar (58%), seguida pelo computador (42%). Contudo, nas classes DE, muitos ainda dependem exclusivamente do Wi-Fi para acesso, devido a limitações orçamentárias. Nas classes mais baixas, o uso apenas do celular é predominante, contrastando com as classes A e B, onde o uso de múltiplos dispositivos é mais comum.

Entre os que nunca acessaram a Internet, 67% apontaram a falta de habilidade com computadores como um dos principais motivos, enquanto 65% mencionaram falta de interesse e 40% citaram preocupações com segurança e privacidade. Esse fator cultural e educacional amplia as barreiras econômicas e destaca a importância de iniciativas de letramento digital, especialmente para os mais velhos e menos escolarizados.

Dos 11,5 milhões de domicílios que não possuem nem computador nem Internet, a maioria está nas classes de baixa renda, particularmente entre os grupos DE, onde apenas 10% dos lares possuem ambos os recursos. Essa limitação impacta a inclusão digital e restringe o acesso a serviços e oportunidades online.

Um dado interessante revelado pela pesquisa é que 1 milhão de pessoas das classes AB ainda não utilizam a Internet, e mesmo entre as pessoas com ensino Superior, cerca de 2 milhões continuam fora do ambiente digital. Esse dado destaca que a exclusão digital não é apenas uma questão de recursos financeiros, mas envolve outros fatores, como segurança digital e interesse pessoal.

Um Futuro Digital Mais Inclusivo

Para que o Brasil realmente avance em direção a uma sociedade digitalmente inclusiva, é essencial que políticas públicas sejam direcionadas de forma cada vez mais incisiva às classes e regiões que mais sentem os impactos da exclusão digital. A inclusão digital não deve ser apenas sobre acesso à tecnologia, mas também sobre criar oportunidades de letramento digital, expandir a infraestrutura em áreas menos atendidas e garantir condições que promovam o uso seguro e produtivo da Internet. Somente com uma presença ativa e estratégica, focada nas necessidades específicas dessas populações, o país poderá romper as barreiras da desigualdade digital, abrindo caminho para um futuro mais conectado e justo para todos.


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