Geral
“Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”
07/11/2013
Foto: autor desconhecido.
A letra da melodia “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos” tem um toque de romantismo que nos leva a imaginar que se trata de uma mensagem para uma namorada que está distante e por quem manifesta sua imensa saudade. Por isso mesmo ela passou tranquilamente pela rigorosa censura da ditadura militar. Subliminarmente Roberto Carlos presta solidariedade a Caetano Veloso, em 1971, após retornar de uma visita que lhe fizera em Londres, onde o compositor baiano estava como exilado político. Como não tinha problemas com o governo, sua inteligente música de protesto não despertou os censores para a verdadeira mensagem nela contida. Em nenhum momento Roberto cita o nome de Caetano na letra, o que fez com que só depois de muito tempo viesse a ser de conhecimento geral que a música era uma homenagem a ele.
“Um dia a areia branca seus pés irão tocar/e vai molhar seus cabelos a água azul do mar”. Roberto fala para Caetano que não perca a esperança da volta à sua terra e reviver a alegria de poder pisar a areia branca das praias brasileiras e sentir seus cabelos serem molhados pela água morna do litoral baiano.
“Janelas e portas vão se abrir pra ver você chegar/e ao se sentir em casa, sorrindo vai chorar”. Prevê a recepção festiva do seu retorno, o abraço carinhoso dos seus conterrâneos, o Brasil feliz com a sua volta ao nosso cenário musical. Na emoção de se “sentir em casa” de novo, a certeza de lágrimas e sorrisos se misturarão. A felicidade faz, também, a gente chorar.
“Debaixo dos caracóis dos seus cabelos/uma história pra contar/de um mundo tão distante/Debaixo dos caracóis dos seus cabelos/um soluço e a vontade/de ficar mais um instante”. Nessa estrofe Roberto começa a identificar o personagem homenageado, fazendo referência aos cabelos encaracolados que Caetano possuía na época. O mundo estranho em que estava vivendo, com certeza, produziria muitas histórias a serem contadas. Sem dúvida essas histórias, em sua maioria, não seriam lembranças agradáveis, porque marcadas pela imensa saudade que sentia do Brasil e de sua gente. No choro a manifestação do desejo de “ficar mais um instante”, foi o que sentiu quando se viu obrigado a partir de sua pátria para viver fora dela, sem ter noção de quando voltaria.
“As luzes e o colorido que você vê agora/nas ruas por onde anda, na casa onde mora./Você olha tudo e nada, lhe faz ficar contente/você só deseja agora, voltar pra sua gente”. A capital inglesa com todas as cores que dão vida à cidade não dá paz, tranquilidade, contentamento, ao seu amigo distante. Nada daquilo lhe faz feliz, só há um pensamento na sua mente, retornar ao Brasil, o seu torrão natal.
“Você anda pela tarde e o seu olhar tristonho/deixa sangrar no peito, uma saudade, um sonho”. As tardes sombrias de Londres contribuem para que aos seus olhos tudo pareça triste. O coração cheio de saudades faz com que viva sonhando com a hora em que estará novamente em solo brasileiro.
“Um dia vou ver você, chegando num sorriso/pisando a areia branca, que é seu paraíso”. Roberto finaliza sua canção acreditando que verá em breve o sorriso da chegada do velho companheiro, andando livremente sobre “a areia branca” de nossas praias, onde finalmente se sentirá de volta ao “seu paraíso”.
• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.
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