Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

De brincos e de paisagens


24/03/2016

Foto: autor desconhecido.

Ela tinha um senso perpétuo, enquanto observava os táxis, de estar fora, para fora, longe do mar e só; ela sempre tinha a sensação de que era muito, muito perigoso de se viver um dia sequer.
Virginia Woolf

 

“Fazer um livro é trabalho de muitos anos. Muito exercício. Muito papel jogado fora. Muitas horas no computador. Muitos ouvidos. Muitos olhos. E muitos leitores. Ao longo de quase 25 anos, me atrevi a escrever, publicar, mostrar, ouvir, e trocar. E quero agradecer a todos que de uma forma mais próxima ou de uma outra mais distante , contribuíram para que eu me “des-pudorasse” nesse mergulho da publicação.” (trecho dos meus agradecimentos).

Lançar um livro não é coisa para amador. E eu escrevendo crônicas e afins há mais de vinte anos, sempre soube disso. Talvez por isso nunca tenha tido a coragem e ousadia para tal. Agora me arvoro. Lanço-me ao abismo. Sem rede de proteção.

Comecei a publicar minhas crônicas no início dos anos 90. Percorri os jornais O Norte, Correio da Paraíba e depois me disciplinei semanalmente no site www.wscom.com.br, a convite do jornalista Walter Santos, que gosta e vibra com o meu texto. Mais recentemente publico também no jornal Contraponto, a convite do editor do segundo caderno na época, Ronaldo Monte.

Já venho organizando esses textos há alguns anos. Mas sempre fui deixando para lá. E cá! Nesse espaço de tempo, meu marido Juca, foi-se , e eu não tive ânimo para mais nada que me exigisse atenção, disciplina e determinação. Depois de um ano, lembrei também de que havia começado esse trabalho extenuante e que merecia o pouso do meu olhar. E é chegada a hora de que a vida é sim soberana! E fui meter a mão na massa. Digo nos textos. Processo longo de leitura, organização, seleção, perdição…..

A minha primeira ideia seria fazer um livro de tudo o que eu já tinha escrito. Uma seleção patchwork dos retalhos da minha escrita, e dos temas que me permeiam: mulheres, cotidiano, memórias, viagens, cinema…Mas quando vi, estava com o tema das memórias imperando sobre os outros. Mas o material era grande em termos numéricos. E fui cortando…cortando…mas mesmo assim, constatei que havia dois livros. E assim, pulei no abismo duplamente.

O primeiro livro, tem o título de Brincos prá que te quero? são as crônicas mais pessoais. Passeios pelas minhas vivências, buscas, vestidos, namoros, família, trabalho, e brincos! O segundo, De paisagens e outras tardes, falo também das memórias, mas do portão para fora. É um bairro, um evento, uma personalidade, um poeta, um carnaval, um São João, mas como separar o público do privado? Também percebi que um está intrinsecamente ligado ao outro. Veremos!

Chamei a professora Lúcia Sander, carioca radicada em Brasília para fazer a apresentação dos Brincos. E porque alguém de longe? Pelo fato de conhecê-la há algumas décadas através das pesquisas/seminários Mulher e Literatura, mas não só. Lúcia é uma estudiosa de Shakespeare e também é atriz performática e fez parte da Banca de defesa de tese do meu Doutorado. Trocamos muitas ideias sobre As Horas nos guardanapos dos cafés que tomávamos durante trabalho! A sua fala na minha defesa, e olha que estamos falando de academia e de um rito, Lúcia fez uma defesa/análise do meu trabalho e do meu percurso, focada na construção e ritmo da minha fala. Por mais des-organizada que parecesse. Foi quase uma continuação à uma Conferência da professora Ria Lemaire, no X Seminário Mulher e Literatura, acontecido aqui em João Pessoa,2005, quando esta na sua fala de encerramento faz menção à minha escrita/oral sobre os assuntos cotidianos, e que viu na minha oralidade uma forma. Essa autorização, e mais o reforço dos leitores que estão sempre a me empurrar nesse espaço do salto, foram responsáveis também pela exposição que agora me proponho.

Já no segundo livro, De paisagens e outras tardes, convidei a escritora e amiga de anos Vitória Lima, para escrever o prefácio. Vitória me acompanha na vida e na escrita, uma vez que agora também se aventura nas crônicas da cidade, e dividimos mais esse fazer. Das duas professoras tive o prazer de tê-las percorrendo os meus textos, e observando análises nunca dantes por mim navegadas. E desde já agradeço e me emociono.

Etapa seguinte? Convidar o editor e querido Juca Pontes para organizar o livro. Já há alguns anos mantínhamos esse contato. Mas só em 2015 batemos todos os martelos. Flávio Tavares, que já pintou muitas das capas de livros de escritores locais, foi o escolhido por mim também. Admiração pelo traço e uma certa intimidade que a vida nos deu! Antonio David com seu olhar sertanejo e marítimo, mas principalmente do cotidiano da nossa cidade, foi quem fotografou o quadro (coleção particular e um retrato meu pintado em 1974), que compôs a primeira capa. E Rodolfo Athayde, outro fotógrafo que sabe dos ângulos e dos queridos anônimos, fez a minha foto para a divulgação. Foto essa que também fez parte de uma sessão para outros fins. Mas aí é outra estória! Quem fez o livro? A gráfica JB, e os meus agradecimentos a Sérgio Baptista.

E agora, é chegada a hora somente do prazer. Do prazer do texto! Da perda do pudor. Do des-nudamento de qualquer sombra de dúvida. Ou de todas as dúvidas? Mergulhar nas profundezas das crônicas sem fim. E o livro será todo de vocês. Leitores!

Brincos, prá que te quero? E de paisagens, tardes e outras saudades põe um ponto de interrogação e/ou de exclamação em uma outra fase da vida. Quem sabe dá certo? Quem sabe eu gosto!

Ana Adelaide Peixoto, João Pessoa 21 de março ,2016
 


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