Cultura

CULTURA – Será que estamos indo pelo caminho certo?


10/01/2020

No ano que se passou a comunidade artística e cultural brasileira iniciou de forma perplexa, diante das tomadas de decisão, por exemplo, da extinção da pasta ministerial da cultura do Governo, ou seja, o Minc. Em seguida vieram diversas outras ações como que um efeito dominó, derrubando toda uma construção de anos em torno de ações positivas de estratégias no âmbito cultural. Um desses golpes maior foi contra a ANCINE, depois a Funarte, a ameaça de extinção do Centro Cultural do BNB, corte de verbas, censura, entre outras.

Embora todo esse clima, o cenário paraibano conseguiu sustentar buscando soluções criativas, resultando no balanço positivo que esta coluna publicou. Há quem conteste e diga que 2019 foi um ano medíocre para a cultura. Porém, lançando olhar a partir do cinema que projetou alguns de nossos atores para o mundo através dos filmes Bacurau, Pacarrete, e outros, que tiveram participação nos festivais de Gramado, Cannes, China, etc., na literatura, por exemplo, foram realizadas diversas feiras por todo o Estado, a Confraria Por do Sol Literário realizou grandes eventos e à Livraria do Luiz, coube reunir a nata da escrita paraibana em seus encontros de sábado pela manhã. O teatro se fez presente com excelente programação, as artes plásticas, na televisão também alguns dos nossos melhores talentos marcaram suas presenças. A música manteve-se com programação constante, destacando A Bodega e o Recanto da Cevada (ambos os endereços, no bairro dos bancários), a General Story, o Café da Usina Cultural Energisa, Espaço Mundo, Vila do Porto, Atelier do NAI, Casa da Pólvora, Picuí e outros, como indicadores de novos talentos apreciando e valorizando os artistas locais, só para pontuar alguns espaços na Capital. E também o programa Palco 105, da rádio Tabajara, e sua programação que, diga-se de passagem, precisa aumentar a inserção de música paraibana, mas que prestou sua colaboração. Tivemos ainda a segunda edição do Festival de Música da Paraíba, e o Governo do Estado decretou o Ano Cultural Jackson do Pandeiro, o que resgatou de forma bacana a obra e o nome daquele artista paraibano em seu centenário. Enfim, corre para aqui, e para acolá, e o saldo fechou a conta. Bem que poderia ter sido maior e melhor, porém tendo em vista um ano que ameaçou a cena cultural, bem que a Paraíba se saiu de forma exemplar.

Mas, o que nos resta saber? O que nos resta aprender?

Recentemente, em mesa com amigos do ambiente artístico, lancei a pergunta do porque ainda sofrermos tanto, porque ainda resta tanta mendicância aos artistas paraibanos que não arriscam sair do Estado, lançar voos maiores, a fim de ganhar espaço na mídia nacional? Parece que não aprendemos a profissionalizar nossas ações para vender nossa imagem, para negociar, para fazer parte do dever de casa do marketing artístico.

Se olharmos bem, veremos que dispomos de conteúdo potencial, artistas e compositores de alto talento, estúdios, eventos diversos de verão a verão, espaços culturais, turísticos, veículos de comunicação, etc. Mas para onde foi a nossa autoestima? Será que viveremos sobre a sombra do sucesso de Elba e Zé Ramalho, Chico César, Gabriel Diniz (in memoriam), e só?  Só isso, mesmo?

Porque não buscamos formar, como em Pernambuco, grupos fortes de artistas da nova cena local e participar de festivais, atravessar o país com caravanas, buscar parte de ajuda governamental que ainda resta para contemplar a cultura e elevar lá fora o nome do Estado?

Porque não nos movimentamos no objetivo de organizar e panejar propostas e projetos eficazes. Por que não nos capacitamos para buscar recursos das Leis e Incentivo Cultural, porque não nos cooperamos para formação maior de público consumidor do nosso próprio produto cultural? Eis que deixo a pergunta, disposto a colaborar com a experiência de mais de trinta anos no batente da arte e da cultura, inclusive, quando representante das maiores gravadoras do país como EMI Odeon, RCA, SONY, Atração, direção de rádio, produção para TV, e outras vivências. Sim, estaremos atentos, dispostos a rediscutir a cena para 2020, com a produção de uma Agenda Viva. E novamente sentamos para refletir e perguntar: Na cultura, será que estamos indo pelo caminho certo?


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