Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

Crônica de um impeachment anunciado


11/12/2015

Foto: autor desconhecido.

Na campanha da eleição presidencial de 2014 emergiu uma força muito forte contra um quarto governo do PT. As ações se apoiaram no grande capital financeiro, industrial e agropecuário associado ao comando ideológico da mídia nacional e de intelectuais e grupos políticos de direita. A ideia básica implícita era que essa alternância de poder deveria se dar pelo voto, para evitar os ônus e riscos posteriores de soluções atípicas.

Dilma Rousseff foi reeleita. De imediato, começou a luta pela sua destituição. As ações no TST para cassar o seu mandato, até agora, não tiveram êxito. A recomendação do TCU ao Congresso contra as contas do governo de 2014 não foi apreciada. A tentativa de jogar a presidente no esgoto da Lava Jato nada comprovou. Portanto, ela não cometeu crimes de roubo, recebimento de propina, improbidade administrativa ou quebra de decoro, à luz da Constituição e da Lei do Impeachment.

Outra insanidade política para derrubar a presidente é a inviabilização do governo. Não adiantou o fato de o ajuste fiscal ser o mesmo que as oposições defendiam. No Congresso, as oposições aliadas ao presidente da Câmara e à parte do PMDB que quer Temer na presidência da República não aprovaram as condições para o superavit orçamentário da União. Ao contrário, aprovaram uma “pauta-bomba” com aumentos de despesas que destruiriam as finanças públicas, sem o veto presidencial.

Essa busca do poder por vias tortas está empurrando o Brasil para um desastre político, econômico e social de consequências tenebrosas. A inviabilização do governo aumentou a sua impopularidade, mas criou a atual crise econômica rumo à depressão. O impeachment não pode ser um terceiro turno eleitoral para nomear um novo presidente. Isso afronta a democracia com danos irreparáveis às instituições da República. Fora da Constituição e da legalidade floresce o autoritarismo e tudo passa a ser possível.

Dois personagens apelam aos deuses das causas impossíveis, para ser presidente do país: Michel Temer e Aécio Neves. Provavelmente, o acordão já foi fechado. Temer ficaria até 2018, com reeleição proibida, até porque, nesse acerto, seria obrigado a adotar políticas ultraconservadoras e antipopulares com alto desemprego e redução dos salários e benefícios sociais. Os principais ministérios do governo seriam do PSDB, DEM e PPS. O PMDB teria menos poder do que tem hoje. Após essa truculência, Aécio surgiria como o salvador da Pátria.

Aécio Neves botou na cabeça que, por ser neto de Tancredo Neves, é predestinado a governar a Nação. Derrotado pelos votos dos mineiros e do povo brasileiro, tudo tem feito por esse devaneio. Apelou para o tapetão do TST e juntou-se ao virtuoso presidente da Câmara Eduardo Cunha contra a presidente Dilma. Agora usa o impeachment como moeda de troca de sua eleição em 2018, de preferência sem adversários. Seu maior desejo é a supressão dos direitos políticos do ex-presidente Lula.

Se não fosse a guerra política pela tomada do poder a qualquer custo, o ajuste fiscal e desinflacionário Dilma-Levy teria sido aprovado pelo Congresso e avançado muito. A economia brasileira teria voltado a crescer em setembro. A oposição impediu a realização desse feito alvissareiro. O governo Dilma não pode dar certo! Esse é o raciocínio danoso dos querem derrubar a presidente, mesmo que o país afunde junto.

Aécio Neves e o PSDB perderam a eleição presidencial por incompetência. Mirem-se nos casos da Argentina e Venezuela; na primeira a oposição elegeu o presidente da república e na segunda conquistou o poder legislativo. Nesses países, um tanto mais na Venezuela, o espaço de exercício das liberdades individuais, de imprensa e expressão política é muito inferior ao nosso. O êxito dessas oposições deve-se a luta com base na democracia, na Constituição e na legalidade. No Brasil, a oposição quer o poder, mas pisando sobre esses valores e, o pior, sem eleição e sem votos.


 


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