Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Brasil

Covid-19: tragédia à brasileira


04/06/2021

Imagem ilustrativa (Foto: Tatiana Fortes/Governo do Ceará)

Não é por acaso, sina ou castigo divino que o Brasil tende ser o campeão da crise pandêmica mundial. Isso se deve à ineficiência do Poder Público, principalmente dos órgãos das áreas social e da saúde. Abriu-se mão do combate científico à pandemia, com os ônus da proliferação do vírus e precarização das ações médico-hospitalares.

A política pública brasileira contra a Covid-19 é tão ousada quanto estúpida, ao se basear nas seguintes premissas do governo federal: a) existem remédios e tratamento precoce eficazes, b) subestimação das prevenções essenciais (máscaras, isolamento social, etc.) e c) crença na solução por imunização de rebanho.

No Brasil, essa foi a tônica na fase crucial da pandemia, em 2020, diante da inexistência de remédio e vacina. Nesse ano, obviamente, os êxitos mundiais deveram-se às ações preventivas. O governo fez uma aposta delirantemente alta. Se suas premissas e práticas tivessem vencido a Covid-19, nosso presidente mereceria o Prêmio Nobel de Medicina.

O presidente Bolsonaro quis ser o salvador da Pátria, talvez de boa fé! Mas, no fundo, é inegável sua astúcia político-eleitoral. O sucesso de sua singular política de combate à Covid-19 o tornaria o brasileiro mais notável e com grande destaque mundial. Assim, sua reeleição em 2022 estaria garantida. Mas, infelizmente, o país amarga um terrível malogro, até porque os equívocos iniciais se mantêm.

Além de seus fundamentos bizarros, a política brasileira anticovid-19 é descoordenada. No governo federal, as propostas dos ministros da saúde foram e são descumpridas, ao vivo em rede nacional, pelo presidente da Republica e muitos ministros. Os governos estaduais e municipais vêm tendo atuação preventiva razoável, mas aquém da necessária e sem integrar uma competente política nacional.

A imunização de rebanho do Brasil viria com a infecção de 45% da população por Sars-Cov-2. Hoje, com essa taxa de infectados conhecida em 8%, o país já chegou a 470 mil mortos pelo vírus. Com essa imunização teria havido uma hecatombe! O governo federal se atrasou na compra de vacina e no início da vacinação (janeiro/21), com forte repercussão na explosão do total de mortes, com tendência a ir até o fim do ano.

O Brasil sofre a maior catástrofe humana de sua história, com a evolução das mortes por Covid-19: 01, em 26.02.20, 194.943, em 31.12.20, e 462.966 em 31.05.21. Nos EUA, cuja população é 55% maior que a brasileira, esses números foram 64, 344.494 e 594.000. O Brasil tem 218 mortos por 100 mil habitantes e os EUA 179.

Nosso país amarga, na dor, uma conquista nefasta no mundo em pandemia. Mantidas as médias de mortes/dia de maio de 2021, o Brasil chegará ao dia 07.09.21 com 653 mil mortos pela Covid-19, e os EUA com 652 mil. Ressalte-se que a média norte-americana de 581 óbitos tende à queda, e a brasileira de 1.897 à estabilidade.

Enfim, já choramos um grande número de mortes evitáveis de irmãs e irmãos brasileiros. Infelizmente, continuamos com vacinação em marcha lenta, insuficiência das ações preventivas e alta demanda sobre a capacidade do sistema de saúde. Mantido esse quadro, vamos chorar a tragédia de mais centenas de milhares de mortos.

 

Rômulo Soares Polari

Professor e ex-Reitor da UFPB

 

 

 


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //