Geral
Contra a corrente liberal
13/10/2015
Foto: autor desconhecido.
Economistas antiliberais lançaram, recentemente, um documento intitulado Mudar para sair da Crise:Alternativas para o Brasil voltar a Crescer. O texto é rico em dados sobre a nossa economia e as principais do mundo. As críticas ao ajuste fiscal-monetário em curso são pertinentes, mas as propostas de solução são insuficientes.
Em síntese, o documento se orienta por três premissas e aspectos básicos: a) é difícil e penoso fazer reajuste fiscal com recessão, b) os juros altos estão levando a dívida e o deficit públicos a níveis explosivos e) urge a adoção de uma política de longo prazo com foco no desenvolvimento a partir da reindustrialização do país.
Faltou uma concepção econômica coerente e realista do nosso capitalismo selvagem, que chegou ao final de 2014 em situação de evidente fragilidade. O país alcançou o pleno emprego (taxa de desemprego de 4,8%), mas com um mísero crescimento do PIB de 0,1%, deficit público/PIB de 6,3%, dívida pública bruta/PIB de 65% e uma inflação que, mesmo represada, chegou a 6,5%.
É claro que, idealmente, em tese, a correção desse descontrole fiscal-monetário poderia ser feita sem os ônus da recessão e do desemprego. Bastaria um acordo tácito entre governo e empreendedores dos setores produtivos. O banco central baixaria a taxa de juro e o governo cortaria despesas públicas, que poderiam ser mais do que compensadas com o aumento dos investimentos privados.
Foi mais ou menos assim no primeiro governo Lula. O setor privado acreditou no plano de ajuste e recuperação econômica. Em 2003, o primeiro semestre foi de recessão e elevação da inflação, desemprego e deficit público. Mas, no total do ano, o PIB do país cresceu 1,2% e a inflação ficou abaixo da de 2002. Nos anos seguintes, até 2008, a economia cresceu em média 4,8% ao ano.
A realidade de 2015 fortaleceu a retórica liberal tradicional: a debilidade política do governo Dilma, o desequilíbrio fiscal com deficit primário crescente e o salário real em elevação, há vários anos, favorecido pelo pleno emprego, mesmo com a produtividade estagnada. O país tornou-se presa fácil aos interesses capitalistas selvagens que inspiraram a lógica do atual ajuste da economia brasileira.
Nesse contexto, não há força concreta determinante de um ajuste fiscal-monetário compatível com os interesses dos trabalhadores e das pessoas que recebem benefícios sociais. É louvável, porém ingênuo, pensar na não prevalência dos interesses do poder econômico-financeiro. Tende a ser assim, no período do ajuste e nos primeiros anos seguintes de recuperação.
Até o final do ano, os decantados “males virtuosos” serão concluídos: alto desemprego, queda do salário real, maxidesvalorização cambial, corte das despesas governamentais e inflação máxima inferior a 10%, já tendo absorvido a pressão corretiva de preços. Só falta a redução da taxa de juro para viabilizar a recuperação econômica que, pelo seu padrão concentrador, terá dificuldades quanto à legitimação social.
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