Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

Consomê de Abobrinha


03/08/2010

Foto: autor desconhecido.

 Para Vitória Lima e Walter Aguiar, aniversariantes do dia.

Chovia muito. E para entrar na sua casa tive de tirar os sapatos para atravessar a enxurrada que descia portão abaixo. Mas era uma noite apropriada para sentarmos à mesa, tomar vinho e experimentar essa nova receita gloriosa. Com pedaçinhos de queijo Brie de entrada. E que delícia podermos sentar em círculo! Uma mandala entre amigas; sem pressa e com direito à trilha sonora espanhola. Depois, os parabéns, bolo caseiro e vinho do porto dos céus. E cantamos dos Beatles: When I´m sixty four! Canção tão linda, idade tão remota, que finalmente chega para algumas amigas já.

E com aquela viola de acordes Sevilhanos, o calor do tinto que já subia pelos poros, ficamos a conversar calmamente sobre tantos assuntos. Que luxo, uma noite dessas!

Primeiro assunto: A receita da sopa , claro! E ingredientes, noz moscada, pimenta do reino? Não, não posso!

Segundo Assunto: loucuras dos anos 80. E cada qual que tivesse uma estória de como se chegava nas festas, sem ser convidada, completamente entregues ao acaso. Uma estória da Bahia, uma outra de Canoa Quebrada, dunas e um por do sol, sim! Com Fagner ao lado, isso porque à essas alturas, um coro de amigas cantarolava uma de suas canções.

Terceiro Assunto: As influências musicais daquelas que moravam no interior: Patos, Malta, Pilõeszinhos E Campina Grande. Difusora. Nelson Gonçalves e Ângela Maria. Fiquei a matutar que não ouvia esses cantores, mas a jovem guarda, e os festivais de MPB, memória resgatada porque esta semana foi lançado o filme “Uma Noite em 67”, de Renato Terra e Ricardo Calil, que trata do Festival da Música Popular Brasileira do ano de 1967, envolvendo um duelo de titãs entre Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Edu Lobo, Sérgio Ricardo e Roberto Carlos em busca do prêmio daquela noite. Fiquei a viajar naquele tempo, ainda menina, e já tão adicted por TV e Música – Alegria Alegria! Ponteio! A Banda!

Quarto Assunto – “Beijo em Pé”- Título da crônica de Martha Medeiros, publicado no Globo de 25/07, e que rendeu suspiros entre nós todas. Os arroubos de se beijar em pé! E tudo o que esse beijo na vertical, se diferencia do beijo deitada…

Quinto Assunto – A Festa das Neves. E parece que somente eu circulava de maça do amor por entre pavilhões, roda gigante, carrossel e vestido novo.

Quarto Assunto: Filhos/filhas, maternidade, escolhas. E novamente me vem à mente filmes como: Momento de Decisão; Entardecer; Sylvia (sobre a vida de Sylvia Plath); As Horas (minhas queridas Mrs. Dalloways); e mais recentemente Revolutionary Road. Falamos de como umas privilegiamos a vida pessoal, entregas ao cuidar dos bebês, e como outras não conseguiram deixar o sonho do crescimento profissional, e, por vezes , aflitas e mergulhadas nesse estado materno, davam de mamar com um peito, e com o outro olho/ouvido escutavam Ariano Suassuna palestrando sobre as pedras e os reinos.

Estamos na semana do dia dos pais, e continuamos a falar das mães. Outro dia ouvi de uma, de como é difícil enfrentar o fato de que a filha virou mulher e tem vida própria. Ou de outra, que a filha se recusa à exercer às responsabilidades de mãe precoce, e vai para a balada, linda leve e solta.

E de escolha em escolha, lembrei daquela moça que gosta de política e se arvora no meio dos homens tão solícita. Que poder ela não sente, falando a língua daqueles que em favor da justiça social, também se negou à exercer à maternidade. Logo logo após parir, já estava nos saltos, a transitar com tanta desenvoltura nas reuniões, sempre com uma avaliação tão certeira, tão ouvida e tão respeitada. Tem seu valor com tanta competência, mas olhando de longe, fico a imaginar que essa doublé da política não teria vez na nossa mesa falante de abobrinhas. Talvez não se achasse devidamente importante, já que não estávamos disputando olhares nenhum, menos ainda o masculino. Nessa noite, éramos somente mulheres, sem nenhum prêmio à vista, a não ser a sopa! E, as abobrinhas of our own!

Em época de Campanha Eleitoral, e eu com um candidato em casa, se tivesse talento para as Ciências Políticas, já tinha uma tese na cabeça. E alguns dados também. O esforço das mulheres para serem olhadas e aceitas pelo viés masculino, na política principalmente. Tudo temperado com noz moscada, pimenta que a Sra. Guenta! E torradinhas com orégano.

Acho que isso dá sopa!

Ana Adelaide Peixoto, 3 de agosto de 2010


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