Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Conhecendo o mar


18/04/2015

Foto: autor desconhecido.

Recentemente chegados para morar em João Pessoa, a grande novidade para mim e minhas irmãs, todos ainda muito crianças, era a praia. O adensamento populacional da cidade na década de cinqüenta começava a avançar em direção à orla. Estávamos residindo num dos novos bairros da Capital, Miramar, antes conhecido como Imbiribeira. Então  próximos da nossa principal praia: Tambaú.

Meu pai e minha mãe organizaram então um passeio dominical em que teríamos a oportunidade de conhecer o mar. Saiu toda a família de bonde. A linda férrea passava em frente à nossa residência, na Avenida Tito Silva, vindo da Estação Cruz do Peixe, que ficava nas imediações do local onde hoje funciona o Hospital Santa Isabel, e findava próximo à Gameleira, limites das praias de Tambaú e Manaira.

Foi uma experiência inesquecível. O espanto com a imensidão do mar, sua água salgada, as ondas, a brisa, a areia da praia, tudo era motivo de encantamento e prazer. Não fugindo à regra, adotamos o comportamento muito mais normal na época, de levarmos os mantimentos para nossa alimentação, tipo “farofeiros”.

A área em torno da centenária gameleira era o ponto preferido dos banhistas. Ali já existia o Elite Bar, exatamente onde atualmente se instalou uma agência do Banco do Brasil. Foi o primeiro equipamento turístico da nossa orla marítima. Além de bar e restaurante, o Elite Bar alugava aos veranistas bóias de pneu de caminhão e trajes de banho para ambos os sexos.

Tambaú só mudou seu aspecto urbano a partir dos anos sessenta, quando deixou de ser um bairro de veranistas para passar a ser residencial. Antes a elite pessoense possuía sua residência no centro ou adjacências e outra casa, exclusivamente para curtir o verão, em Tambaú. Em crônicas posteriores falarei com mais detalhes sobre a nossa principal praia e sua expansão imobiliária, turística e comercial.

Apesar de ter vivido boa parte da minha vida morando na praia, nunca tive com o mar uma relação de intimidade. Entrar nágua sempre foi muito raro. Minha freqüência maior é em razão da satisfação de tomar uma cervejinha gelada, desfrutando da beleza visual do mar e do sol que nos oferece a oportunidade de ganhar uma cor mais bronzeada. Além disso, quando de manhã cedinho me disponho a fazer caminhadas na calçadinha, o que não existia no tempo em que fui apresentado à praia de Tambaú.

Portanto, em janeiro de 1958 deixei de ser um garotinho do interior que nunca havia visto o mar. Embora nunca tenha sido um “garoto de praia”, a partir de então nunca perdi a ligação com a vida praieira, seja residindo em ruas dos bairros da orla, seja vivenciando os atrativos que nos são oferecidos como lazer.

• Integra a série de textos ‘INVENTÁRIO DO TEMPO II”.

 


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