Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

Confissão de um Pessoense


08/02/2018

Foto: autor desconhecido.

Como diria o Poeta, cada vez mais a nossa terra natal vai passando a ser apenas um retrato na parede… É claro que dói! Mas faz parte dos ônus da opção pela modernidade. Não há uma explicação humanamente plausível para que isso se imponha a todos nós, como determinação de uma indiscutível força maior.

As cidades crescem movidas por ilusão e autofagia. Não há quem contenha a sua incursão pelo espaço-tempo. Como falsas verdades, elas se alastram horizontal, vertical, demográfica, social, cultural, econômica e politicamente… Parecem imensas serpentes elásticas vorazes, que não se fartam de destruir para reproduzir, ao gosto do presente, o que vai encontrando pela frente.

João Pessoa é um caso raro. No desenvolvimento que a fez uma metrópole, minimizou-se o furor autofágico. Os seus bens naturais foram razoavelmente preservados. Os seus monumentos, edificações, ruas, avenidas, e praças compõem um rico patrimônio histórico, arquitetônico e cultural.

É surpreendente percorrer o itinerário histórico-espiritual, indo da antiga Estação Ferroviária, nas margens do rio Sanhauá, até os modernos bairros próximos da beira-mar: Tambauzinho, Miramar, Cabo Branco, Tambaú, Manaíra, Bessa… É como se a história da Cidade fosse passando na janela dos nossos olhos. Aí estão todas as suas feições, da mais arcaica à última criação modernizante.

Mas nada resiste ao tempo com vida plena. Por isso choro pelo Varadouro, o Porto do Capim, a Cidade Baixa, a Praça João Pessoa, o Pavilhão do Chá, o Ponto de Cem Réis e outros prédios e espaços sagrados locais. Uns já se foram, muitos outros clamam por recuperação ou sobrevivem como zumbis históricos renitentes resistindo às exigências dos novos tempos.

Ecologicamente, os pessoenses somos um povo relativamente lúcido. É bom saber, para nossa glória, que os deuses sempre protegem e abençoam os que cultuam a excelsa virtude da lucidez. Daí o bem-sucedido zelo que dedicamos às nossas riquezas ambientais.

João Pessoa é uma agradável cidade-jardim. As suas praias são, entre as das capitais brasileiras, as que mais ostentam natureza genuinamente original. O rio Sanhauá, com seus exuberantes manguezais, continua a circular a Cidade Baixa, no curso do seu plácido e milenar passeio rumo ao mar de Cabedelo.

Morar em João Pessoa é desfrutar o deleite de ser provinciano, cosmopolita e contemporâneo do passado e presente. É fácil amar essa Cidade. Afinal, os seres humanos, mesmo integrados à máquina do mundo, somos amantes fanáticos pelo que é natural, belo, puro, lúdico, lúcido, simples e verdadeiro.
 


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