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CIDADE MANGUE, CIDADE DA COPA: QUAL A MELHOR NO FUTURO?


05/05/2014

Foto: autor desconhecido.

  Um elemento atirou uma privada que atingiu e matou um torcedor do Santa Cruz. É essa a notícia da semana, que se comenta de lado a lado da cidade. Há duas semanas, o enfoque foi um sujeito que se masturbou dentro de um cinema em um shopping de Casa Forte e, ejaculando, atirou jatos que atingiu e molhou as pernas de uma advogada que se encontrava sentada ao seu lado. Anteontem eu, pessoalmente, assisti a uma tentativa de assalto, de um moleque numa bicicleta contra um agente de vigilância sanitária em trabalho…

Sim. Escrevemos da Cidade Mangue: Recife, Estado de Pernambuco. Antes conhecida por Veneza Brasileira. Entrecortada por rios, pontes e overdrives, como cantou Chico Science, questionando o social que vai da lama ao caos, do caos a lama. Também, a cidade de grandes poetas, intelectuais e políticos: Joaquim Nabuco, Gilberto Freyre, Miguel Arraes, Manoel Bandeira, Joaquim Cardozo, Carlos Pena Filho, João Cabral de Melo Neto, Capiba, Alceu Valença, Lenine, e muito outros, e por onde passariam alguns artistas e poetas como Clarice Lispector, Luiz Gonzaga, Sivuca, Gilberto Gil; naturalmente aqui bebendo da fonte Capibaribe que logo deságua no Atlântico.

A cidade mangue retrata hoje enormes desafios, descaracterizando (ou modificando) a sua beleza para logo inserir-se a um movimento cosmopolita. Shoppings centers, faculdades, gastronomia, turismo, feiras, espaços culturais, e grandes eventos do teatro, cinema, música, literatura, tecnologia, e esportivos como a Copa das Confederações e Copa do Mundo, contrastam com os dramas sociais que se repetem nas ruas. São inúmeros os protestos: nas portas dos hospitais com forte aglomeração de indulgentes e médicos insatisfeitos; nas filas que há para tudo que se imaginar: estacionar, ir ao banheiro, pagar contas em bancos, ir ao cinema, funerais, maternidades, supermercados, restaurantes, teatro, filas de ponto de ônibus, metrô, etc.

O drama social revela o estresse urbano: insegurança, trânsito travado, gente dormindo, passando fome e mendigando nas ruas, drogas e prostituição, e outros exemplos advindos de grandes metrópoles.
O comportamento humano requer urgente, uma observação com tomada de decisão inteligente. E preciso que gestores e empresários repensem a cidade não apenas no sentido de registrar obras de fachada, que geram mídia espontânea, como que estivessem realizando o necessário ou mais. Que, pensem o futuro de forma honesta, digna, planejada e com estratégias, soluções, e preparar o que se poderá chamar de cidade inteligente.

O sobrevivente da vida urbana é um sujeito humano como qualquer outro. O que diferencia é viver e pagar um alto custo da economia de vida quando escolhe, muita vez involuntariamente, um endereço na metrópole. Suas características passam por identificação cultural, social, religiosa, de classe, papéis que representa e status. Suas referências ultrapassam a família, amigos e vizinhos, sendo agora retratadas para o que se chama de sujeito global, com perfil digigráfico iniciado (e viciado), nas redes sociais, na escola, no trabalho. Seu estilo de vida, sua imagem, sua personalidade; aonde vai, o que come, o que calça e veste, o que assiste e ler, o que curte; enfim, sua ocupação e lazer, sua motivação e sua experiência de vida, são valores que devem ser respeitados.

E aqui buscamos refletir e rever como o comportamento humano vem sendo influenciado. De um lado pela ideia de velocidade, que transforma quase tudo em descartável, para logo inovar e dar lugar a modernidade… Por outro, o querer ser, cada vez maior e melhor, contando estímulos à grande corrida, à grande competição.
São grandes os desafios das sociedades modernas. Quando, por exemplo, o ex-presidente Lula lutou para conquistar e trazer a Copa do Mundo para o Brasil, acreditamos talvez, estivesse apenas pensando um país melhor para o seu povo. Que, com o crédito atrativo do olhar de toda a economia do mundo para um país emergente, envidaria recursos capaz de tornar a vida melhor aqui. Ao mesmo tempo foram acrescidas algumas barreiras e os indicadores preocupam. É nesse momento que precisamos de líderes capazes de planejar com estratégias; indicando quais ferramentas deveremos usar para atender nossa família, filhos, idosos, e tornar a vida verdadeiramente melhor. Saber se queremos o craque nas nossas ruas, ou o craque da seleção atirando em gol. Se queremos a Cidade Mangue ou a cidade da Copa, como estratégia para uma vida melhor no futuro.

Gil Sabino é jornalista e gestor de marketing.
g.sabino@uol.com.br


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