Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Mulher

Celebrando com as mulheres


18/03/2021

Foto: Divulgação / Rede Bem Estar

(Peço licença para re-publicar trechos de um texto, já publicado anteriormente há mais de uma década, e que achei ainda atual para o mês de março).

E viva todas as mulheres! Hoje, ontem e todo dia. Àquelas que estão nascendo hoje – seja na maternidade, seja no desabrochar de suas descobertas. As que hoje morrem no corpo físico e também na desesperança;

Às mulheres que se esgoelam para que seus maridos, filhos e amantes lavem pratos, cuecas… Às mulheres invisíveis, que assim se sentem e que assim são vistas;

Às mulheres que construíram uma identidade, vestem o que querem, falam o que pensam e tem vida própria. Àquelas que não sabem quem são, vestem-se para agradar; não falam – balbuciam e repetem – e vivem as vidas de seus homens – e se aborrecem;

Às mulheres que vivem suas verdades; enfrentam os seus dilemas, seus fantasmas. Àquelas que mentem, fingem, dissimulam e mergulham no silêncio do não dito;

Às mulheres que sofrem a violência doméstica e vivem às tapas e beijos. Às que enfrentam seus homens, o mundo e a vida com o dedo em riste e gritam: BASTA!
Às mulheres ignorantes, tolas, ingênuas e pobres de espírito. Às mulheres que tiveram acesso à educação, às articuladas, maliciosas, atrevidas e que descobriram o poder do humor;

Às mulheres meninas que logo cedo descobrem que brincar de boneca tem seu preço. Às adolescentes que se assustam com o sangue de menstruo e não sabem ainda a simbologia daquele sinal de saúde e de vida. Às mulheres jovens, lindas, que fervem de desejos, tateiam sua capacidade criadora, exercem sua sexualidade plena e creem na vida;

Às mulheres que acreditam no amor, no encontro e no homem como seu companheiro cúmplice; Àquelas que já não acreditam tanto e por uma razão ou outra preferem viver sozinhas, por vezes sublimando até o sexo, até o amor;

Às mulheres grávidas, férteis, no esplendor da maternidade. Às que escolheram ser mães, donas de casa, regar plantinhas, misturar temperos, comidinhas, esperar o marido pra jantar. Às mulheres que optaram por não ter filhos; investir na profissão e na liberdade;

Àquelas que abortaram – foi preciso – e pronto!
Àquelas que caíram nas armadilhas masculinas e femininas também (casamento, caritó, e tantas outras);

Àquelas que até hoje não sabem bem o que querem, mas escutam sua voz interior;

Às mulheres maduras. Às suas rugas, suas estrias, seus cabelos brancos, seus peitos murchos, pois o tempo não é só um atributo feminino, e com certeza tem os seus encantos. Àquelas que não conseguem tal harmonia e desesperam e sofrem e secam de desgosto e azedume;

Às esposas, às amantes, às comadres, às vizinhas, às amigas, inimigas, às bonitas, às vulgares, às inquietas, impacientes, irritadas intolerantes. Às passivas, obedientes, engasgadas, às tranquilas, às obcecadas, às que dizem sim, às que negam, às que debatem, às que aceitam;

Às nossas escolhas insensatas?! Às nossas feridas, que apesar dos unguentos, são tão difíceis de cicatrizar;

Às nossas vidas – de mulher universal, de cadeia feminina, de avó pra mãe, de mãe pra filha, de mulher selvagem. À todas as “lobas”, que vagueiam nas florestas e nas cidades resgatando e celebrando a sabedoria do feminino: “Coma, descanse, perambule nos intervalos, seja leal, ame os filhos, queixe-se ao luar, apure os ouvidos, cuide dos ossos, faça amor e uive sempre”.
À todas as Anas, à todas as Mulheres!

Ana Adelaide Peixoto – março, 2020


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