Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Entretenimento

Carta ao “Senhor Covid-19”


20/04/2020

Imagem ilustrativa

Prezado (nem tanto) Senhor Covid-19,

Venho  por meio desta, solicitar desesperadamente o fim  do estrago que o Senhor tem feito ao mundo , que  já está de bom tamanho.

Confesso que nunca estudei biologia e até hoje não sei bem o que é um vírus. Como aparece, as suas mutações, durações, perigos, e propagações. O mais perto que cheguei foi com a Dengue. Tive por duas vezes e pensei que ia morrer de tanta astenia.  Mas, depois desta tragédia no mundo, logo eu, que nunca vivi uma guerra, jamais esquecerei do poder destrutivo de um vírus.

O Senhor, chegou desafiando o milênio que, com toda a sua pompa e crescimento tecnológico, não teve 21 lições que desse jeito na sua contenção.

Estamos de quarentena! Nunca soube o que era isso. Sou alérgica, tenho rinite, coço o olho e sou chegada a roer unhas. Desde menina. Imagine a logística. Estou o dia todo a lavar as mãos; desinfetar objetos; e a fazer os serviços domésticos. Olha, toda vez que sou pega na curva do rio, me espanto com os afazeres de uma casa. Que trabalho! Uma eternidade de louças, roupas, limpar chão, banheiros, etc e tal. Ter uma casa cheirando a desinfetante, roupas limpa, tudo arrumado e limpo. Adoro! Nunca tive o talento para e esse trabalho  desprestigiado e explorado E muito admiro quem tem.

Dói-me a alma ver o números de mortos na Itália, Espanha, Estados Unidos, e mundo afora. Falam até em Teoria da Conspiração. Sou inocente demais para acreditar nisso. O Brasil está em estado catatônico. O samba nos botecos? De recesso. As feiras livres? Os tomates chorosos. Os seus contágios, ardilosos.

Ficar em casa em isolamento social é brinquedo. Sempre tenho o que fazer. O difícil é lidar com você na espreita. A sombra de uma pandemia nos assombrando, que nem nos meus piores pesadelos eu poderia imaginar. À noite é insônia. E quando o pensamento está livre, o demônio faz sua morada. Percebo a nossa fragilidade. Cada pessoa a lidar de forma diferente com essa incerteza e angústia. Umas ficam ansiosas, outras mais reclusas e ensimesmadas ainda. Os idosos? Os mais desamparados. Alvo certeiro das políticas não públicas que alguns teimam em implantar.

Progressão geométrica, é isso mesmo que queres? Tanto estrago no planeta de uma só vez? Eu uso máscara, luvas, álcool em gel, sigo à risca a cartilha, mas é impossível fazer tudo. Tem as brechas. Uma geladeira que se toca, e as pegadas ao longo do dia com Daniel, meu filho , que veio de São Paulo, onde tem o maior número de infectados. Então, são catorze dias de suplício. Nem abraço nem cafuné.

Preciso passar o pano na casa. E como não deu tempo de comprar aquela geringonça que faz esse trabalho mais leve, me pego com um rodo desobediente, uma estopa amarrada e a jogar água sanitária, pelos quatro cantos. Uma luta!

Fico a lembrar do conto “Babylon Re-visited”, de F.Scott Fitzgerald, e as questões de abundância e escassez. A geladeira tá ali, me faltando tudo. A cerveja acabou ! mas inda bem que tem os Express para trazer as Heineken, alguma válvula de escape para enfrentar os dias. E as noites.

Owow Senhor Covid, tenha compaixão do mundo. E vá simbora de onde nunca deverias ter saído. Um morcego? Quem sabe ele não está sonhando com esse casulo novamente. Pode até ser que tenha um castelo pela vizinhança, sua nova morada.

Sem  Mais, E XÔ!

OBS- Fiquem em Casa!

Ana Adelaide Peixoto


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