Dirigir na cidade de João Pessoa é, sem dúvida, uma tarefa que demanda muita paciência e habilidade. Infelizmente, estamos vivendo uma situação caótica nas ruas: carros obstruindo cruzamentos, estacionando em locais proibidos e motoristas buzinando incessantemente, exigindo preferência.

Além disso, é comum presenciar situações em que, ao dar seta, o motorista ao lado encara essa ação como uma afronta e faz de tudo para ocupar o espaço que ele considera ser seu. A proliferação de motocicletas e carros importados de grande porte também contribui para a falta de segurança dos veículos pequenos ou compactos, que são os preferidos pela classe média.

Tudo isso é agravado pelo egoísmo, falta de civilidade e de educação, o que torna o trânsito na cidade uma verdadeira luta de classes motorizada. Essa falta de segurança e a constante tensão presentes nas ruas acabam minando qualquer possibilidade de paz no trânsito.

O trânsito também revela a bipolaridade ética do povo brasileiro, com comportamentos e atitudes contraditórias. Ao mesmo tempo em que exigimos publicamente o cumprimento rigoroso das leis, condenamos a corrupção de agentes públicos e defendemos penas severas para infratores, muitas vezes esquecemos desses princípios básicos quando a situação envolve nossos próprios interesses ou responsabilidades.

Pagamos propinas e nos envolvemos em práticas corruptas para escapar de multas por dirigir sob influência de álcool ou drogas, estacionar em vagas reservadas para cadeirantes ou simular emergências para justificar bloqueios de trânsito. Ignoramos o desconforto alheio, desde que seja para obter benefícios pessoais.

A situação caótica nas ruas não é causada apenas pelo aumento do número de veículos ou pela falta de mobilidade urbana adequada. A falta de civilidade no trânsito é uma parte significativa do problema. Ônibus, táxis e caminhões congestionam as vias, trafegando de maneira perigosa próximos a outros veículos e obstruindo o fluxo na faixa da esquerda. Os motoqueiros, aparentemente imunes ao Código Brasileiro de Trânsito, agrava ainda mais a situação ao utilizar a linha branca entre as pistas como um corredor exclusivo, fruto da negligência por parte das autoridades.

Para reverter essa situação, é necessário adotar medidas como policiamento móvel ostensivo, estrito cumprimento das leis e a participação cidadã na solução dos problemas de violência e insegurança urbana, buscando a convivência pacífica e a cooperação entre as diferentes classes sociais. Infelizmente, ainda estamos longe disso.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores