Geral
“Canto das três raças”
08/10/2013
Foto: autor desconhecido.
Este samba, interpretado por Clara Nunes em 1976, é uma composição de Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte. Sua primorosa letra nos conta a história do sofrimento das três raças que fizeram a nossa história. É um canto de dor causada pela escravidão a que sempre essas raças estiveram submetidas. A música hoje é trilha sonora do programa “The Voice Brasil”.
Inicia com uma denúncia “No canto do Brasil um lamento triste sempre ecoou/desde que o índio guerreiro foi pro cativeiro e de lá cantou”. Foi o primeiro canto triste, a primeira raça a ser oprimida desde a invasão do nosso território. Os verdadeiros e originais donos dessa terra foram escravizados e subjugados aos ditames do império português.
No segundo momento a música reporta a escravidão negra, o sofrimento e a revolta dos africanos transportados à força, jogados ao degredo compulsório, vivendo em condições sub-humanas e de absoluta submissão aos senhores de engenho. “Negro entoou um canto de revolta pelos ares/no quilombo dos Palmares onde se refugiou”. Era um grito de insatisfação em forma de canto, mas não produziu o resultado que esperavam e continuaram acorrentados.
E seja qual for à situação o povo canta. “E de guerra em paz/paz em guerra/ todo o povo dessa terra quando pode cantar/canta de dor”. O choro cantado, das duas primeiras raças oprimidas, continua ecoando até hoje, a despeito da célebre lei de 13 de maio que deu liberdade aos escravos negros. Atualmente somos todos escravos do capitalismo, uma escravidão moderna. Independente de cor e de raça e de credo, nosso povo continua chorando as diferenças sociais, a desvalorização do trabalhador, a opressão dos poderosos.
E o samba conclui com o paradoxo do cantar “E ecoa noite e dia, é ensurdecedor/ai, mas que agonia o canto do trabalhador/ esse canto que devia ser um canto de alegria/soa apenas como um soluçar de dor”. E fica a pergunta: Até quando haveremos de ouvir esse lamento triste? Até quando os oprimidos vão cantar suas tristezas, seus desapontamentos, suas desesperanças?
* Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.
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