Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Cada geração com as vantagens e desvantagens do seu tempo


19/05/2015

Foto: autor desconhecido.

 

A geração atual deve ficar se perguntando como conseguíamos viver sem o celular, a internet, a TV a cabo , sem o computador, sem o caixa eletrônico bancário, sem o cartão de crédito. Os que usufruem de toda essa praticidade do mundo moderno, devem ficar imaginando como era complicada a nossa vida nos anos sessenta.

Nós mesmos, hoje em dia, sentimos dificuldades em tocarmos nossa vida sem essas novidades dos tempos modernos. Ficamos mal acostumados. Ou será que o termo mais exato seria “bem acostumado”? Tornamo-nos dependentes de tudo o que proporciona facilidade nas ações do nosso cotidiano.

Quando não havia celular a comunicação por telefone teria que ser feita por aparelhos fixos, que não eram baratos. Nem todo mundo tinha condição de possuir uma linha telefônica. Se não existia a internet, nem transmissão de imagem via satélite, não tinha como acompanharmos o que acontecia no mundo em tempo real. As notícias chegavam até nós com algum atraso. A televisão em preto e branco, também artigo de luxo por algum tempo, só sintonizava dois ou três canais. Os lances do futebol só eram vistos quando exibidos dias depois em vídeotape.

O computador fez com que dispensássemos a máquina de datilografia, tornando a comunicação mais rápida e o registro escrito mais eficaz. Esse equipamento não nos obriga mais a consultarmos as Enciclopédias Barsa ou Delta Larousse para nos informarmos melhor de algo que desconhecemos. Basta que pesquisemos no Google. Substituiu as correspondências por cartas pela interação virtual. Eliminou os arquivos de papéis pela memória digital.

A movimentação da nossa vida financeira exigia que nos deslocássemos a uma agência bancária para retirar ou depositar algum dinheiro. Nem se pensava na existência de caixas eletrônicos, nem os cartões de crédito/débito. Depois de enfrentar uma fila enorme, ainda tínhamos que suportar a demora que o funcionário do banco levava para examinar nossa ficha pessoal com conta corrente, disponibilidade financeira e a autenticidade da nossa assinatura no cartão de autógrafo.

Se desejávamos comer algo que já estivesse pronto, não teria outra forma de esquentá-lo, se não fosse na boca do fogão ou no forno. O micro-ondas ainda não existia. Ficávamos ansiosos para recebermos fotografias que registravam nossos momentos de felicidade, porque a revelação demorava alguns dias. Nem as polaroides, nem os celulares para fazer fotos instantâneas, estavam ainda ao nosso dispor.

São só alguns exemplos. Mas, apesar de tudo isso, éramos felizes. Em contrapartida, podíamos andar tranquilamente pelas ruas a qualquer hora do dia. Não vivíamos estressados com a loucura do trânsito, nem ansiosos com a pressão da sociedade de consumo da atualidade. Enquanto crianças, não ficávamos reclusos em casa, absorvidos pelos jogos de vídeo game ou nos celulares. Nossa forma de se divertir era bem mais simples, mas com uma sensação de liberdade que não existe mais. As brincadeiras resultavam, muitas vezes, da nossa capacidade criativa na produção dos objetos de entretenimento.

Em compensação, na nossa época, a privacidade era respeitada, sem riscos de ser invadida por hackers. Os adolescentes estavam livres dos assédios e seduções de internautas criminosos. Quando em reuniões familiares ou encontros sociais, não perdíamos a oportunidade de conversar bastante, porque ninguém estava com um aparelho celular na mão navegando na internet ou online num grupo de rede social. As escolas não eram um campo aberto para atuação do narcotráfico, aliciando a juventude para ingresso no mundo das drogas.

Daí concluirmos que cada geração experimenta vantagens e desvantagens do seu tempo.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.


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