Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

Buenos Aires, Mira!


11/07/2017

Foto: autor desconhecido.

Para Claude, minha irmã querida e companheira de viaje!!!

Foi sem querer, e quando vimos (minha irmã Claude e eu) estávamos no voo de inauguração da Gol – João Pessoa – Buenos Aires, abrindo assim um canal de comunicação do turismo entre as duas cidades. Palmas para o Governo do Estado e a PBTur, na pessoa exultante de Ruth Avelino. Pois lá fomos nós voar inaugurando os céus. E claro, um luxo! Para quem há décadas pega voos em Recife e Natal, e fica horas em conexão, voar para o extremo sul e voo direto, foi no mínimo uma experiência rápida.

Não gosto de Alfajors, nem de Parrilada, ou Choripan só comi de leve….,mas não foi por isso que demorei a conhecer Buenos Aires. A primeira vez foi somente há dois anos. E a gente nunca esquece. E fiquei com vontade de voltar. E na estreia, ficamos restritos aos pontos mais turísticos. Julho? Sim, certos passeios exigem um clima frio, para rimar com Malbec! Casacos! E o vento cortante na face. De calor já basta o nosso de cada dia.
Pois assim tivemos. Frio de 11 a 14 graus e dias absurdamente ensolarados, para depois mais alguns com chuva, mas guarda chuva existe para isso. Abri-los! E a moça exclamava: “Para Água! Mais barato que uma gripe!”

Desta vez nada de Caminito, nem Teatro Colon. Mas sempre um rabo de olho nas belas avenidas 9 de julho, Alvear, Libertador, Santa Fé.

Feira de San Telmo aos domingos – imperdível! Uma rua quase minha! Cheia de brechós, antiquários, artesania local, souvernirs, moda exclusiva, inclusiva, couros, alfajors, e claro, músicos de qualidade a tocar e dançar tango . Eu queria ficar parada ali o dia todo, só ouvindo Aranjuez Mon Amour, Recuerdos de la Alhambra (F. Tarrega), e comendo empanadas caseiras, apimentadas, e visitando lugares charmosos para um chope com essas iguarias. Perdi a Feira de Mataderos, que também só acontece aos domingos.

Ricoleta – melhor lugar para ficar. Bairro charmoso, e mais calmo diante do frenesi do Centro. Sem falar que salpicado de parques, lojas, comércio, cafés, restaurantes, e o Alvear Palace Hotel – a gente se transforma em princesa para um brunch das deusas. Pães, frios, espinafre a la creme! Iogurtes com Frutas do Bosco!! Tudo para comer gemendo. Vale a aventura. Mas se fores uma princesa modesta o Le Pain Cotidien também nos leva aos céus com seus produtos orgânicos.

Museu Malba – Arte da América Latina de Buenos Aires! muita alegria de ver ao vivo o Abaporu, de Tarsila do Amaral, e contemplar a tela que despertou o Movimento Antropofágico, como também obras dos brasileiros Helio Oiticica, Antonio Dias, Di Cavalcanti e Portinari. Sem falar nos mexicanos Frida, Rivera e Orozco. No restaurante /café do Museu vale o almoço! Entre as caminhadas pelos parques da cidade uma entrada rápida no Museu de Belas Artes, e apreciar as bailarinas de Degas e tantos outros pintores mais conhecidos, ou não. Pelo título, também fomos visitar a Manzana de las Luces, que só o nome poético me invadiu com ares de naftalina. Tantos biscuits, cristaleiras, vidros, potes e louças e bordados. Um equipamento de cultura, lazer e arte, perto da Casa Rosada.

Parques – O melhor para os dias frios ensolarados – Parque das Nações e verde que te quero verde! Ficar namorando a Floraris Generica, uma escultura gigante em forma de rosa, do arquiteto argentino Eduardo Catalana e símbolo de Buenos Aires. Uma obra imponente e que nos causa impacto. Toda a singeleza de uma rosa, com todo o seu simbolismo de paixão, fugacidade, perfeição está ali em prateado, reluzindo majestosamente, e que se abre de dia à luz do sol e se fecha pra dormir quando a noite cai, mais poético impossível! Reserve tempo, pois o melhor de todo parque é ouvir o silêncio e contemplar. Depois ainda tem a Praça Francia, o Rosedal e o Jardim Japonês, prepare os olhos, os sentidos, e as pernas. Caminhar é preciso!

Tangos – Buenos Aires respira tango! Seja nas feiras ou simplesmente aos nossos ouvidos, mas tem que se ir a um Tango em Buenos Aires. Da primeira vez fui ver o espetáculo do Café Tortoni. Turístico sim! Mas sem tantas plumas como os mais tradicionais. Mais despojado, mas nem por isso menos exuberante. Dessa vez fui conhecer um Centro de Cultura – Torquato Tasso (San Telmo), e ouvir Negro Falótico, com seu grupo de músicos extraordinário, incluindo uma japonesa e seu bandoneon. E cito sua nacionalidade porque nada mais exótico que essas duas nacionalidades. A leveza do oriente e aquele movimento de sangrar os sentidos que tem esse instrumento de Astor. Piazzola, meu querido! Quantas saudades! Claro que, ao ouvir aquela voz de veludo e toda a tragicidade que o gênero pede, tive o meu entrelaçado de pernas no juízo, pois como não lembrar de Carlos Saura e o seu Tango particular. Obrigada ao casal Elaine e Luiz, cariocas e moradores de João Pessoa, e habitués das terras portenhas, que gentilmente nos acompanharam à contradança.

Palermo Soho – Viva passear!. Praçinha Julio Cortázar, lojas lindas, avenida Borges Luis Borges, e um pouco de literatura nas sacolas. Mas a Calle Florida, ainda é uma aventura. A Galeria Pacífico (ares de Milão!), as lojas de departamento Fallabella, para alguns sonhos consumistas. Pero, não gosto de outlets nem tão pouco das correrias às compras, e quando temos pouco tempo, a prioridade é sempre a rua, o povo, os queridos anônimos (de Rodolfo Athayde).

Porto Madero – Averiguar a revitalização dessa área uma vez decadente, mas hoje uma avenida de restaurantes tantos; imponente , lá está a Puente de La Mujer. Pedi truta da Patagônica com legumes assados! No Cumaná, também fomos para provar o arroz de campo indicado por minha colega Danielle Almeida. Mas aí já é outra história!

A livraria El Ateneu repeti a visita. Não consigo ler em espanhol, coisas de quem já fala uma língua e tem bloqueio para outra. Mas só estar ali no meio de tanta beleza e livros já é um mergulho na arte da escrita. E por entre os 8 mil Cafés que existe na cidade o Tortoni não poderia faltar, para os famosos churros. E desse aroma inconfundível, voltei até tonta.

Outro passeio imperdível é passar o dia em Colonia Del Sacramento, na margem uruguaia do Rio da Prata. Muitos seguem viagem até Montevidéu. Mas nós fizemos bate e volta no Buquebus – Balsa. Lugar de traineirinhas e escunas, mas o que enche a vista de beleza é o centrinho histórico com um passeio à beira do rio murado, voltado par o poente, o Paseo San Gabriel. Pouco resta da arquitetura original portuguesa, mas o traçado e o calçamento e a Calle de lós Suspiros é de suspirar, literalmente. O Quadrado, ou a Plaza Mayor é de sentar a beira do caminho e ficar sentindo o perfume das laranjeiras em fruta. Nesse dia, o clima mudou para nublado e ventava. A atmosfera era de – O morro dos ventos uivantes, mas nem por isso menos encantador. Enchia a vista a vastidão daquele rio caudaloso e infinito, com suas árvores esquisitas e exóticas na beirada. Tinha até um farol gentil, para me lembrar de Virginia Woolf e de Praia Formosa. Pensei comigo mesma: estou no extremo sul do mundo!

Mas o roteiro melhor da viagem foram realmente os parques, as ruas, os cafés, e o espaço urbano ocupado e desfrutado com calma e segurança. Nós que hoje vivemos aprisionadas e sem poder dar um passo a pé, ficamos embevecidas de circular e de ver a cidade sendo compartilhada pelos seus moradores. Os idosos vivem! Festejam, vão a restaurantes, bares, sítios; bebem vinho, conversam, comem, visitam, e são desfrutes da própria existência. Percebo que aqui, os idosos vivem em casa, arrastando chinelos e sem vida própria. Sei que tem o fator econômico, o climático (calor demais), mas percebo a cultura da rua pujante em cada palmo que andamos em terras portenhas. Domingo à noite e as pessoas ocupando os bancos das praças e dos restaurantes. Eu própria, nessa hora da semana, já me recolho à minha insignificância da preguiça e já não gosto de sair. Fiquei pensativa a respeito.

Voltamos abastecidas de cultura, contemplação, vinhos, frio, doce de leite, e tangos. Da próxima vez, o Tigre não me escapa. Nem as Províncias. Nem as Milongas, que agora, escaparam propositadamente às minhas mãos.

Agradeço às amigas: Danielle Almeida, Elinês Albuquerque, Elaine e Luiz, Genilda Azeredo pelas dicas de viagem preciosas. Muchas Gracias!

Ana Adelaide Peixoto – 10 de julho, 2017
 


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