Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Brincadeiras de rua


23/04/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Brincar é um momento sagrado na vida de qualquer criança. É a primeira experiência de interação social que o ser humano vivencia. Por essa razão considero tão importante as brincadeiras de rua que existiam no nosso tempo, uma vez que serviam também de estímulo para o convívio em grupo. Exercitávamos o corpo e a mente. Uma espécie de educação física e intelectual.

A rua da minha infância não tinha calçamento. Reuníamos em baixo de uma árvore chamada “barriguda”, que existia bem no seu meio. Bem frondosa, a “barriguda” tinha esse apelido porque tinha um caule intumescido, com diâmetro bem maior do que sua base. Protegidos por sua sombra ali iniciávamos as brincadeiras de rua. Jogávamos bola de gude, disputávamos habilidades botando o pião para rodar, pulávamos corda, brincávamos de pega-pega, esconde-esconde, cabra-cega, ioiô, etc.

Mais à frente, num espaço maior, aconteciam as ‘peladas’, com as traves formadas por pedaços de pedra. Nunca fui um bom jogador de futebol. Por isso, me colocavam na função de organizador dos times, uma espécie de “presidente da federação”. Chegamos inclusive a constituir um time, o “Madureira”, com escudo e tudo. Hoje me pergunto o porque da escolha desse nome. Recordo-me que o melhor jogador dessas ‘peladas’ era um garoto que morava no Varjão, muito pobre, que passava o dia por nossa rua, e que ganhou o apelido de “Pelé”. Não tive mais notícias dessa figura.

O estado de insegurança que vivemos hoje impossibilita a criançada fazer o mesmo que nós naquela época. A meninada se isola em seus quartos divertindo-se com videogames, programas de televisão, jogos no computador ou celular. Acabaram-se as brincadeiras de rua. Além do sedentarismo, que não faz bem a saúde, há uma sensação de perda da liberdade tão importante para quem precisa conhecer o mundo de forma prática e não só por informações obtidas pela internet ou aparelhos eletrônicos. Vejo isso com certa preocupação.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.
 

 


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //