Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

Brasil 2018: melhor para quem?


19/01/2018

Foto: autor desconhecido.

A economia brasileira terá, sim, um desempenho melhor em 2018. Assim prevê o deus-mercado que zela pelos negócios dos setores produtivos, os que produzem bens reais e serviços úteis. Mas essa perspectiva não parece agradar nem contar com o decidido apoio e confiança do deus-mercado do sistema bancário-financeiro.

A recuperação econômica seguirá o rumo da reversão cíclica, depois de quatro anos seguidos de recessão/estagnação. Há uma enorme capacidade produtiva ociosa e muitos milhões de desempregados. As empresas não podem mais adiar os investimentos de reposição de estoque e equipamentos velhos ou tecnologicamente obsoletos.

Nesse contexto, crescem as expectativas de lucro. O que estimula o aumento da produção com o aproveitamento da capacidade instalada atual e a expansão desta com novos investimentos. Ao final de 2018, podemos ter um crescimento do PIB de até 3,5%, com inflação de 4%, taxa básica de juro de 8% e desemprego de 11%.

O papel econômico do governo Temer é quase nulo, dada a sua limitação fiscal-orçamentária. Não foi a sua política que domou a inflação. Isso se deveu muito à recessão e ao fim dos efeitos da correção dos preços administrados (combustíveis, luz, etc.) feita no governo anterior. A taxa de juro caiu com a desinflação.

Os coronéis do mercado financeiro estão alarmados com o que chamam de descalabro da situação fiscal. A dívida pública fechou 2017 em 77% do PIB, com teor explosivo: o deficit primário do setor público é alto e a taxa de juro Selic já chegou ao piso, em torno de 8% a.a. Assim essa dívida tende a crescer em 6% do PIB, a cada ano. O ajuste fiscal deve ter coerentes motivações e ações que preservem o interesse social.

Os barões da riqueza financeira só veem um caminho: o setor público tem que gerar altos superavit primários. Só assim seria possível evitar a reescalada dos juros e inflação freando a economia. No fundo, o que querem é afastar o risco de calote da dívida pública, evitando que esta convirja dos 80% para 100% do PIB, nos próximos cinco anos.

Essa questão não é simples, pois é a síntese do modelo socioeconômico em implantação no país. Pela ideologia em prática, o Brasil não pode crescer economicamente com avanços na democratização do acesso à riqueza, renda e ao bem-estar. A “insensatez” de se tentar fazer isso, de 2000 a 2014, teria jogado o país na desgraça econômica atual.

Será que só resta a grande maioria da população, os pobres e as classes médias pauperizadas, dizer amém à salvaguarda dos R$5 trilhões dos credores da dívida pública? Por que tantas reverências com esses “sortudos”? Quem disse que a salvação deles será, também, a nossa, e que ou é isso ou caos? Os trabalhadores não merecem um tratamento equivalente?

Não há solução para o Brasil, com a atual desatenção pública às áreas de educação, saúde, segurança, transporte coletivo, habitação popular, ciência e tecnologia. Isso não se resolve por milagre, ou com a politica de teto dos gastos públicos, as novas leis trabalhistas e a pretensa reforma da previdência. Ora, essas ações conservadoras, no que fazem vigorar, preservam os interesses dos magnatas financeiros e minorias privilegiadas.
 


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