Alberto Arcela

Publicitário e jornalista

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Bolerando com Ravel, por Alberto Arcela


14/10/2023

Foto: Reprodução/Internet

Por uma ironia do destino, depois de passar nas praias de Manaíra e Bessa, vim sentar praça em Intermares, onde moro até hoje, a dois ou três quilômetros da praia de Jacaré, onde acontece a apresentação do Bolero de Ravel.
É o que se pode chamar de um feliz acaso, levando-se em conta a afinidade que eu sempre tive por aquele lugar, onde costumava beber nos finais de semana e namorar diante de sua paisagem paradisíaca.
Mais feliz ainda fiquei com a possibilidade de registrar em vídeo mais uma apresentação de Jurandy do Sax, executando a obra de origem europeia, que deixou de parecer com os salões parisienses, para ser a cara de uma praia na região metropolitana da capital da Paraíba.
E foi aí que entrou em cena a grande questão e suas inúmeras possibilidades. Afinal de contas, de quem foi a ideia de tocar o bolero sempre que o sol se põe em Jacaré.
Reza a lenda, que tudo começou com um gringo, que colocava o disco na vitrola justamente quando o sol começava a se por, mas há controvérsias.
Há quem jure, por exemplo,que a ideia foi da proprietária do Jacaré Bar, que teve a ideia depois de voltar de uma viagem ao Velho
Mundo.
E, finalmente, tem a versão do protagonista da festa, que está perto de completar nove mil apresentações do bolero mais famoso do mundo.
Para Jurandy, o ponto de partida foi mesmo o Jacaré bar, onde se apresentava nos finais de semana, com um repertório que ia do bolero a muitas outras músicas, quase todas de autores nacionais.
O fato é que, independente de quem foi o pai ou mãe da ideia, o lugar atrai famílias de todos os lugares do mundo, e é o mais visitado da cidade, em todas as estações.
Um sucesso tamanho que acabou por atrair o mercado imobiliário, que contabiliza hoje três novos e grandes empreendimentos de luxo, dentre os quais um que leva o nome de Raveo, variação do nome do compositor francês autor do Bolero.
Impressionantes também são os barcos que disponibilizam passeios – quase sempre catamarãs – e as marinas que abrigam lanchas e até mesmo iates de luxo.
Em outras tempos seria cenário das obras dos impressionistas franceses, ao lado de flores e jardins. E a grande inspiração de Maurice que se repete sem ser o mesmo. E que flerta com o romantismo e a poesia do mundo.
E pensar que tudo isso está ao alcance da mão, não tem preço. E que pode virar um filme, quando já é uma locação natural, é melhor ainda.
Ainda mais porque sempre gostei de boleros, que é uma música caliente. Dia desses, por acaso, descobri uma intérprete desse gênero e foi amor à primeira vista. O nome dela é Kika Edgar, é mexicana e faz grande sucesso por lá como cantora e atriz.
Com ela, entendi o sentido do bolerar e do bolerando com Ravel, que na verdade é uma composição do mineiro João Bosco, o mesmo de O Bêbado e a Equilibrista e um dos melhores de sua geração.
Que, com o filme, pode virar história e correr o mundo. O mesmo Bolero que está ajudando uma comunidade a sobreviver da música, clássica e erudita, que por aqui aportou por obra e graça do destino.
E que cedo ou tarde, que você queira ou não, termina batendo na sua porta.


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