Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

Atrás da Bola


08/07/2014

Foto: autor desconhecido.

 "Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola." – Nelson Rodrigues

Entendo pouco de futebol, mas desde a Copa de 70, quando vi numa telinha em preto e branco Pelé e cia que, barriga tremeu de aflição, e desde então que vejo tudo, me emociono, torço, dou palpite e faço parte dos 200 milhões de técnicos.

Embora não entenda muito de zaga, volante, esquema tático etc…, percebo o além mar que é esse jogo de homens correndo atrás de uma bola, mas não só. Sei admirar dribles, posse/passe de bola, chapéu, bicicleta, escanteio, tiro de meta….Estou há quase um mês grudada na TV torcendo por gregos e troianos. Mas, descobri que o que gosto mais são os bastidores, as mesas de discussão, acho que quem sabe até transmiti esse gosto para meu filho Daniel que formou-se em jornalismo e quer seguir a carreira na área esportiva. Este ano estou adict do programa Extraordinários – Sport TV, rindo muito da irreverência de artistas diferenciados, que tem graça e sabem o que dizer da falta de assunto! Pontos especiais para Xico Sá e Maitê Proença.

Sou curiosa pelos programas sobre as cidades dos times, a concentração, a torcida, as imagens da loucura dos estádios, as hola, gritos de guerra, coloridos das maquiagens, fantasias, e toda essa comunhão de êxtases do que trata o futebol. Claro que não estou aqui lembrando das barras pesadas on and off de uma Copa. A violência, o viaduto que desaba, as falcatruas, os ingressos superfaturados – uma lástima.

E cada vez, me espanta tudo de difícil e mágico que esse jogo é e representa. Um jogo onde os jogadores tem que ser bons de bola no pé, ter amplitude de espaço, visão de jogo, prever o adversário, jogar conforme o movimento dos 11 jogadores, e mais 11…, e ter uma resistência física ilimitada. Não só ser Hulk e sua bunda, ou ter pernas alegres de Bernardo, ou franzino e garça/graça como Neymar. Tem que ter também sabedoria para cair, driblar, fazer cena, mandingar, catimbar, cavar pênalti, mas tem acima de tudo que ser forte, muito forte, física e psicologicamente, para enfrentar os adversários, a pressão, a Mídia, os 200 milhões de técnicos (que nem eu!) , mas o próprio ritmo do jogo que é único em fazer os jogadores voarem na bola, e usarem seus corpos como escudos, que muitas vezes não suportam e quebram. Daí achar quase impossível ser um jogo para as mulheres. Até ver a Martha jogar.

De todas as Copas, a que mais gostei, levando em consideração esses making off, foi a Copa da França. Por todas as reportagens sobre o país, os queijos, os vinhos, e as entourages francesas. Não perdia um programa do Olivier Anquier. Sempre fico arrepiada ao ouvir a Marsellesa, e tenho até uma cunhada com esse nome. E nem falar Francês eu falo. Somente Sava e Merci! Ou ainda Je veux du vin…..si vou plait… Mas ver Ronaldo o fenômeno ter aquele piripaque, até hoje me enfurece, e ninguém sabe o que realmente aconteceu. O tempo nublou até hoje.
Este ano foi tudo diferente. A copa no Brasil. Com jogos aqui do lado , em Recife e Natal. Mas não me animei , e me culpo por isso. Gosto de ver jogo no silêncio. Cerveja gelada, azeitona, mas um ritual de concentração. E nada como meu sofá. De bandeira na mão , é claro. Acho que virei aquele menino que se torna sofá de tanto que vê TV…

E a Copa vem dando seu recado de A Copa das Copas. Estádios cheios. Alegria. Batucada. Jogos animados. Muitos gollllllllls. Seleções fortíssimas. Disputas acirradas. Prorrogações. Decisões nos pênaltis. Harmonia nas arquibancadas, e o brasileiro confirmando sua cordialidade de bom em receber e festejar. O mundo está deslumbrado com pão de queijo e caipirinha! E ouvi o escritor Marcelino Freire (no filme Tarja Branca) a dizer que nos incomodamos com os estereótipos de que somos o carnaval, alegria e futebol. Mas que sejamos! Diz ele. E que bom ser reconhecidos pela alegria. Num mundo de guerras, e de supremacias, apartheid, e diferenças étnicas e econômicas, erguemos a taça desse jeitinho de dribles com as nossas adversidades. Não que também não as tenhamos. Mas que sambamos e fazemos do ritmo nosso compasso e nossa resiliência.

Jogadores? tenho meus preferidos. Suspirava por Platini, Beckenbeur, Batistuta, Cruyff, e muitos brasileiros. Gosto muito do Neymar, afora seu cabelo, pelo jeito desengonçado e menino de ser um monstro dentro de campo. Daí a perplexidade quando vi a cena da violência estúpida que o levou a ficar fora da copa. Senti a dor no espinhaço, logo eu que tenho também umas dorzinhas na lombar. Simpatizo com a timidez de William, a defesa de Tiago Silva, a beleza de Fred, a força bruta do Hulk, e claro: com o Gansolino do Messi, o Balotelli, Hobben, Sneijder. Como todo o país, fiquei a xingar o juiz, e a exigir punições. O meu gol preferido? O de voador, do jogador da Holanda, Van Persie. Meu jogador? David Luis, mesmo antes da copa. Não resisto a uns caracóis.

Chorei com a força de Luiz Soares, de vê-lo ficar bom em tempo Record para participar da Copa e fazer o gol de classificação do Uruguai. Não acreditava na cena que via – a da mordida. Inacreditável. E aí fiquei a pensar de como o temperamento pode ser seu aliado e seu maior inimigo em tudo na vida. Inda mais no Futebol. Os violentos sempre se deram mal: Edmundo,Marcelinho Carioca, Zidane, só para citar alguns . Um acesso de raiva pode custar uma vida, pelo menos no futebol. O futebol trabalha com os brios, a honra, os preconceitos, e o que o homem tem de melhor e pior. Resta saber por qual linha mais tênue o jogador terá que andar.

Semana passada assisti à uma entrevista com o jogador mais Cult dos anos 70. O médico Afonsinho. Um distinto senhor! Fiquei a lembrar daquele jovem rebelde que encontrei na porta do seu prédio em Botafogo, em plena década de 70 no Rio de Janeiro. Eu também já sou uma jovem Senhora, viu Afonsinho?

O chorôrô dos atletas? Acho normal, levando em conta a origem da maioria desses meninos ( eu vi todos os programas do Tino Marcos no JN, e suas trajetórias pobres e sacrificadas), a pressão, e a nossa capacidade de não saber lidar com a razão, pressão, e busca de resultados. Nossa estrutura é outra. Nossa relação com a criatividade, diferente dos alemães, ou outros europeus, que quanto mais encurralados, a mais vigor se impõem. Mas, também não gostei do choro do Tiago Silva na hora dos pênaltis. Hora de fazer cara de mau é preciso. Encarar o goleiro para fazer a trave parecer gigante, condição necessária para um capitão, sem falar que nesse momento é de concentração e não de explosão. Saber a hora certa do Yin e do Yang. Depois, todo choro é bem vindo. Eu que o diga!

A hora do gol? Acho que não tem outra para um êxtase tão grande. Muitos comparam a um orgasmo. E pela cara e gritos dos jogadores, deve de ser mesmo.

Tin Tin Neymar. E boa sorte à Seleção Brasileira!

Eu aqui, torcendo frenéticamente.

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, 8 de Julho, 2014


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