Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Justiça

As voltas que o mundo dá


17/04/2024

Normalmente usamos essa expressão popular quando vemos pessoas que foram derrotadas pela arrogância. Gente que, ao ocupar um cargo considerado de importância, se julga em situação de superioridade aos demais, assumindo comportamento de prepotência. Super estima as próprias competências. Não tem consciência de que a arrogância precede a queda, porque se mostra incapaz de exercer o poder ou a autoridade eventualmente assumida.

O exemplo mais recente é o da magistrada Gabriela Hardt, substituta do ex-juiz Sérgio Moro, que foi afastada de uma vara recursal da justiça do Paraná, por decisão do corregedor nacional do CNJ, ministro Luís Felipe Salomão. Foi uma medida cautelar que será apreciada pelo colegiado. Mas, em seu relatório foram citadas supostas ilegalidades praticadas pela juíza, quando esteve no comando da famosa Operação Lava Jato. Segundo o corregedor ela “teria cometido irregularidades em decisões que autorizaram o repasse de cerca de R$ 2 bilhões oriundos de acordos firmados com os investigados, entre 2015 e 2019, para um fundo que seria gerido pela força-tarefa da Lava Jato. Os repasses foram suspensos em 2019 pelo Supremo Tribunal Federal (STF)”. Conclui sua decisão afirmando que “Os atos atribuídos à magistrada Gabriela se amoldam também a infrações administrativas graves, constituindo fortes indícios de faltas disciplinares e violações a deveres funcionais da magistrada, o que justifica a intervenção desta Corregedoria Nacional de Justiça e do Conselho Nacional de Justiça”.

Quem diria que aquela mulher que, sentada na cadeira de juíza do processo Lava Jato, com a sua autoimagem inflada pela mídia corporativa nacional, tentou humilhar o ex-presidente Lula, em um interrogatório acontecido em 2019, repreendendo-o de forma insolente e desrespeitosa, ao ser questionada sobre as acusações feitas contra ele. “ senhor ex-presidente, esse é um interrogatório e se o senhor começar nesse tom comigo a gente vai ter problema — disse Hardt, que completou: — Então, vamos começar de novo: eu sou a juíza do caso, eu vou fazer as perguntas que eu preciso para que o caso seja esclarecido e assim possa sentenciá-lo ou para que um colega possa sentenciá-lo. Num primeiro momento, você tem direito de ficar em silêncio, mas, nesse momento, eu conduzo o ato”.

Hoje já sabemos que ali era um teatro, a sentença já estava escrita antes da conclusão do julgamento. Ficou conhecida como a juíza do “copia e cola”, quando transcreveu 40 páginas da sentença de Moro ao condenar Lula pelo apartamento do Guarujá, que nunca foi provado ser de sua propriedade. No texto da sentença por ela propalada foram encontrados trechos repetidos e até mesmo um ponto no qual cita o “apartamento”, quando estava julgando o caso do “sítio”. Ou foi má fé, ou foi incompetência. Ou as duas coisas, ao mesmo tempo. Essa sentença foi anulada pelo entendimento de que ela “reproduziu, como seus, argumentos de terceiro, copiando peça processual sem indicação da fonte, o que não é admissível”.

Como ela é da extrema direita, não sei se aceita que a terra é redonda ou admite a teoria terraplanista. Mas, o fato é que está experimentando o que nos ensina a sabedoria popular quando diz: “a terra gira”. Neste caso, está mais do que girando, está capotando. Usando ainda da linguagem do povo: “o feitiço está virando contra o feiticeiro”, ou “quem com ferro fere, com ferro será ferido”. Se vê sofrendo prejuízos pelas próprias atitudes.

Sabemos que há movimentos corporativistas no CNJ para revogar a decisão do seu afastamento de forma cautelar. Pode até ser que isso aconteça. Mas ela continuará sendo uma investigada com fortes comprovações das irregularidades cometidas. A máscara caiu.

A arrogância precede a derrota, essa é uma grande verdade. A toda poderosa de outrora está agora em situação inversa, sendo investigada por atos considerados criminosos e vai pagar caro por isso. Enquanto que o preso que ela procurou humilhar hoje ocupa o mais alto cargo da nação, pela vontade da maioria do povo brasileiro. O povo sabe o que diz: “aqui se faz, aqui se paga”.

Agora dá para Lula cantar uma canção de Luan Santana que fala assim:

“Pra você ver,/Você tá pagando pelo que me fez/
Me fez sofrer/Mas o mundo gira e agora é sua vez
De acertar as contas com a sua própria consciência/E entender que cada ato gera uma conseqüência”.


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