Paulo Amilton

Doutor em Economia.

Economia

As tarifas de Trump e seu possível efeito bumerangue


10/07/2025

(Foto: Brian Snyder/ Reuters)

Ontem foi anunciado que o governo Trump aplicou um tarifaço sobre as importações brasileiras para os EUA de 50%. No entanto, não é apenas a economia brasileira que sofrerá consequências, a americana também sofrerá.  Quando um governo impõe aumentos nas tarifas de importação, quem acaba pagando, direta ou indiretamente, é o consumidor interno. Isso acontece de várias formas.

A tarifa é um imposto cobrado na entrada do produto estrangeiro. Se um carro importado custa US$ 30.000 e há uma tarifa de 25%, o importador paga US$ 7.500 ao governo. Esse custo é repassado ao consumidor final, que verá o preço  do carro por algo como US$ 37.500 ou mais. Ou seja, tarifas tornam os produtos importados mais caros para o consumidor interno.

Mesmo produtos fabricados no país podem ficar mais caros. Quando a concorrência estrangeira fica mais cara, por causa da tarifa, os produtores nacionais ganham poder de mercado. Eles podem aumentar seus preços sem medo de perder consumidores para importados já que esses estão mais caros agora. Isso significa que as tarifas também podem gerar inflação doméstica, mesmo em produtos nacionais.

O presidente do Banco Central americano, Jerome Powell, vive alertando o governo de seu país que não pode diminuir as taxas de juros internas justamente porque prevê aumento de inflação interna decorrentes das tarifas impostas aos parceiros comerciais dos EUA.

Muitas empresas americanas importam insumos, como aço, alumínio, peças, chips etc. Se o custo desses insumos sobe por causa das tarifas, o custo de produção também sobe. Essas empresas então repassam esse aumento aos preços finais que o consumidor paga. Quando os EUA impuseram tarifas sobre o aço e o alumínio em 2018, empresas como a Harley-Davidson e montadoras americanas tiveram aumento de custos e passaram isso ao consumidor americano.

Se o custo geral de vida sobe devido aos produtos mais caros, o poder de compra do consumidor cai. Se indústrias afetadas pelas tarifas, como exportadoras retaliadas ou setores que usam insumos importados, reduzem produção ou demitem, isso também afeta negativamente o consumidor, agora desempregado ou com menor renda.

Sendo assim, o aumento de tarifas de Trump terá um efeito bumerangue, aquele equipamento que quando se joga em uma direção, volta tempos depois para a posição inicial. As consequências do aumento das tarifas para a economia brasileira serão ruins, mas para a economia americana também. Porém, este efeito bumerangue não será sentido apenas no âmbito econômico, também acontecerá no âmbito político.

O governo Trump anunciou tarifas originalmente para Canadá e Australia, entre um sem-número de países. Estes estavam próximos de eleições gerais cujos partidos políticos de ideologia diferente das do partido republicano americano estavam com percentuais nas pesquisas eleitorais desfavoráveis. Depois do anúncio, os percentuais passaram a ser favoráveis e foram eleitos, derrotando os aliados de Trump nestes países.  Ou seja, as tarifas também tiveram um efeito bumerangue na política.

Aqui o mesmo fenômeno pode acontecer. O filho 03 do ex-presidente, que neste momento está vivendo nos EUA, declarou a impressa brasileira que as tarifas foram colocadas por conta do processo judicial movido contra o pai dele e que se este fosse agraciado com uma anistia, as tarifas seriam retiradas.

A economia brasileira foi feita de refém para a livrar o pai das consequências judiciais das escolhas dele.  Acho pouco provável que os trabalhadores brasileiros que podem perder seus empregos e os consumidores que podem pagar preços maiores devido a imposição das tarifas gostem muito de terem suas situações econômicas prejudicadas para salvar o mito.

A maior ironia é que o setor que provavelmente seja mais prejudicado será o agrícola, aí incluído o setor sucroalcooleiro nordestino, que é o setor econômico brasileiro mais bolsonarista. Eles vão fazer um verdadeiro Pix para o ex-presidente. Pode acontecer um bumerangue político para os adeptos do mito.

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