Palmarí Lucena

Escritor e diplomata

Política

As janelas quebradas da nossa cidade


15/01/2024

A Teoria das Janelas Quebradas nos mostra um importante aspecto da sociedade que muitas vezes passa despercebido: a relação entre desordem urbana e o aumento da criminalidade. Ao tolerarmos atos antissociais, como consumir drogas em público, ocupar ilegalmente espaços e mendigar de forma agressiva, estamos contribuindo para a criação de um ambiente propício para violações da lei.

Um experimento conduzido pelo psicólogo americano Philip Zimbardo ilustra essa relação de forma impactante. Ao deixar um carro em um bairro de classe alta, sem sofrer qualquer danificação durante a primeira semana, Zimbardo decidiu quebrar uma das janelas do veículo. O resultado foi surpreendente: em poucas horas, o carro foi completamente destruído e roubado por grupos de vândalos. O mesmo ocorre na vida urbana, onde a visível degeneração e o crime se espalham de forma preocupante.

No nosso dia a dia, nos deparamos constantemente com pedintes, criminosos e flanelinhas oferecendo serviços ilegais nas ruas. Muitas vezes, essas atividades parecem ser uma maneira de evitar danos à nossa propriedade. O público, por sua vez, encara passivamente essas ações como uma forma de chantagem social, algo que deve ser tolerado para evitar conflitos. Essas atividades ocorrem diante dos nossos olhos, frequentemente na presença ou com omissão das autoridades policiais.

Além disso, a disputa entre a prefeitura e os ambulantes no centro da cidade é um exemplo frequente da omissão das autoridades frente à degradação do espaço público. Enquanto gestores municipais estão mais preocupados em construir obras grandiosas para exibir em cartões postais de suas administrações, a decadência e a violência urbana continuam a crescer, ameaçando a durabilidade dessas obras.

Estamos tão envoltos em nosso crescimento consumista que reproduzimos o mesmo clima de exuberância irracional que antecedeu a crise econômica dos países industrializados. Construímos edifícios cada vez mais altos e luxuosos, enquanto abandonamos o centro da cidade, permitindo que nossa história seja engolida pelo abandono. Promulgamos leis de acesso às calçadas e espaços públicos, mas falhamos na aplicação dessas leis quando se trata da construção, manutenção e desobstrução das calçadas. Atualmente, elas são privatizadas por ambulantes, negócios ilegais e restaurantes informais, em detrimento dos usuários de transporte público, que necessitam de pontos de ônibus adequados e seguros.

Antes que sejamos divididos por um apartheid social, movidos pelo medo e pela deterioração drástica da nossa qualidade de vida, é essencial que tomemos medidas para combater a desordem urbana. Devemos reforçar a segurança nas ruas, revitalizar os espaços públicos e garantir um ambiente seguro e de qualidade para todos. Somente assim poderemos reduzir a incidência de crimes e melhorar a qualidade de vida em nossa sociedade. Afinal, nossas janelas quebradas estão aí, visíveis para todos verem. Agora, é hora de consertá-las.


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.