Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

As discussões políticas na internet


22/01/2017

Foto: autor desconhecido.

 

As redes sociais deveriam ser um importante instrumento para o exercício de reflexão, troca de ideias divergentes e estímulo à pluralidade democrática. Na prática o que vemos é exatamente o contrário, principalmente quando o debate (melhor classificar de discussão) acontece no trato de questões políticas. Há uma flagrante prevalência da hostilidade, com expressões precipitadas de opiniões, fugindo ao discurso racional.

A internet está cheia de piromaníacos, aqueles que sentem prazer em jogar gasolina no fogo para provocar o incêndio. Normalmente são debatedores despreparados, que não aceitam contestação ao que pensam e defendem. Oferecem status de manchetes aos boatos que satisfazem seu pensamento político. Desconhecem o que sejam regras de polidez. Assumem um engajamento político belicoso, produzindo comentários carregados de sarcasmos, desqualificando os que se opõem às suas ideias, utilizando-se de ofensas pessoais já que não se apresentam com capacidade para argumentação contrária.

O pior é que são pessoas que não aprenderam a pensar. Falam, raciocinam e agem, na conformidade do que seus líderes definem. Falta-lhes consciência crítica. É como se participassem de torcidas organizadas em torno de disputas partidárias e questões polêmicas. Estimulam o acirramento dos ânimos. Confundem debate com discussão. O debate produz aprendizado, conhecimento, e, muitas vezes, o encontro do consenso. A discussão é pautada por brigas, desavenças, xingamentos.

Atingir de forma depressiva a dignidade de outrem é afrontar o direito alheio de assumir sua individualidade. Não se pode confundir o discurso do ódio com a liberdade de expressão. Os embates políticos não devem ser alimentados pela ferocidade, e sim pelo equilíbrio de manifestação das opiniões.

Isso se aplica aos dois lados da disputa: direita ou esquerda, coxinhas ou petralhas, socialistas ou neoliberais. É necessário que se desarmem os espíritos, para que busquemos a paz que este país tanto precisa. Muito triste ver que amigos fraternos se atacam por causa de política e as divergências contaminem os ambientes familiares a ponto de suscitarem brigas entre parentes.

Já fui vítima disso, por amigos-irmãos e por familiares. E lamentavelmente entrei no jogo da discussão inflamada. Passado o abrasamento do bate-boca, dos desentendimentos, é que observamos o quanto estamos sendo tolos nesse tipo de comportamento. Façamos, portanto, das redes sociais, não um campo de batalha, mas um espaço de conversa civilizada, mesmo que no confronto de teses e convicções. Que as brincadeiras nunca deixem de ser apenas uma forma irônica, no bom sentido, de defesa de suas posições, sem o interesse em achincalhar, menosprezar ou humilhar alguém. Assim preservaremos e fortaleceremos a democracia que deu tanto trabalho para reconquistar.
 


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