Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

As brincadeiras da infância


10/04/2015

Foto: autor desconhecido.

 

No nosso saudosismo temos mania de dizer que no tempo em que fomos crianças, éramos mais felizes. Argumentamos que tínhamos mais liberdade e as brincadeiras eram mais apropriadas para a idade. Censuramos o fato de que a infância de hoje tem um tempo de duração mais curta, porque a adultização é um processo determinado pelo avanço da tecnologia.

Lá no sertão da Paraíba, onde vivi meus primeiros anos de vida, realmente tenho recordações de uma fase pueril, ingênua, inocente. Podíamos brincar a vontade na rua sem medo de assaltos ou outras formas da violência urbana tão comum nos dias atuais. Como não tinha ainda a televisão, as famílias se reuniam nas calçadas à espera do “Aracati”, um vento que vinha do Ceará refrescar as noites sertanejas. Enquanto nossos pais conversavam, ficávamos usufruindo das brincadeiras da época: pega, esconde-esconde, amarelinha (lá se conhecia como academia), andar de velocípede (nem todo mundo podia ter um, era artigo de luxo), etc. Havia os brinquedos dos meninos e os das meninas. A igualdade de gênero nesse aspecto ainda não era admitida. Para os meninos os carrinhos, as bolas, as pipas, o pião, etc. Para as meninas as bonecas, as casinhas, roupinhas, etc.

Meus netos já não vivem esse mesmo tipo de diversão. O medo de sair de casa deixa as crianças enclausuradas em suas casas, entretidas com joguinhos nos celulares, videogames, televisão, e outros sofisticados equipamentos da modernidade. Brincar na rua, nem pensar. Podem não ter a liberdade que tivemos de se distraírem na rua, mas ganharam em oportunidades de adquirirem conhecimentos que a gente demorava um bom tempo para receber. A idade intelectual de nossos netos e contemporâneos, equivale à idade mental da nossa pré-adolescência.

Em síntese, quero dizer que tudo tem o seu tempo. Cada um com suas vantagens e desvantagens. Eu, particularmente, relembro com alegria a simplicidade como vivi minha infância. Com certeza, meus netos dirão o mesmo daqui a cinquenta anos.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.

 


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