Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

Arnando Antunes, Marina Colasanti & Outros Assuntos


30/11/2010

Foto: autor desconhecido.

 
Os nomes dos bichos não são os bichos.
Os bichos são:
Plástico pedra pelúcia ferro madeira cristal porcelana papel.

Os nomes das cores não são as cores.
As cores são:
Tinta cabelo cinema céu arco-íris tevê.

Os nomes dos sons.

Tivemos uma semana rica em literatura. Semana passada falei de Mia Couto, e depois uma imensa programação literária, com a 1ª Feira Internacional do Livro e o 1º Seminário de Literatura do SESC. Tantos escritores famosos, os da terra, e muitos livros e autógrafos.

Confesso que não dei conta. Nós, professores/as da Universidade, ainda tivemos o nosso grande evento do CCHLA , o Conhecimento em Debate, também um evento onde precisamos estar presentes, para ver e ouvir os colegas, alunos, e tomar pé da nossa produção acadêmica.

Mas, fui ver Arnaldo Antunes. Gosto dele desde os Titãs, e aprecio o seu jeito esquisito de dançar, meio andrógino, meio andróide, e também do seu olhar poético, tão debruçado sobre os encantamentos da palavra. Um vozeirão sexy e agora, cinqüentão, aprontando na laje e gravando festas de arromba. Arnaldo me parece um homem doce, sensível , antenado, charmoso e super ligado nas mais diversas mídias.

Nas perguntas , quis saber se seus filhos gostavam de poesia, pois sinto muita dificuldade de levar meus filhos na direção dos meus interesses. Ele me falou que também não é tão fácil, e que o movimento se deu ao contrário, ou seja, os pequenos é que, através das suas falas e estórias, foram fontes de inspiração para a palavra dos seus poemas.

Também confessei meu lado fã e como boa representante da Jovem Guarda, até hoje me emociono quando escutava Quero que tudo vá para o Inferno. Confidenciei-o de que, quando ouvi seu Cd, Iê Iê Iê, fui invadida pela mesma emoção; uma emoção não de quem canta jovem guarda, mas um sentimento de quem evoca à jovem Guarda. Um outro tempo, uma outra batida, mas a mesma linha melódica. Comentei também desse sentimento, compartilhado quando do show de Paul McCartney em Sampa, que infelizmente só pude ver na TV, mas o êxtase igualmente aconteceu. Agradeci-lhe por Invejoso, uma música que me trouxe a forma brega e linda dos meus tempos de Iê Iê Iê.Ao final, ele recitou um poema belo. Cantou, e dançou esquisito….Ainda tive direito a abraço, beijos e um autógrafo concreto (meu nome desenhado como essa poesia), na sua antologia – Como é que chama o nome disso.

Quanto à Marina Colasanti, acompanho suas palestras desde há muitos anos; por ocasião dos Fenarts e também do Seminário Mulher & Literatura. Muito elegante, irônica, perspicaz, e culta. Cultíssima, com um extenso currículo de jornalista, publicitária, pintora, ilustradora e senhora das artes literárias: poesia, prosa, ensaios, crônicas e contos de fadas. Marina falou de muitos trabalhos: Contos de amor rasgado, 12 Reis, E por falar de Amor, Passageiro em Trânsito (Prêmio Jabuti de 2010), Fragatas para Terras Distantes, e do seu último livro, Minha Guerra Alheia, que fala da sua experiência infantil diante da guerra; experiências essas por exemplo, quando tinha aula particular nas casas das professoras, uma vez que as escolas na Itália tinha sido transformadas em hospitais. Como não lembrar do ensino nas casas com alpendres daqui de João Pessoa também, embora não estivéssemos em guerra. Minha Tia Eugênia tinha uma escola dessas, onde casa, alpendre, cozinha, era tudo misturado com aluno, ensino e educação.

Perguntei-lhe se conhecia o filme As Tartarugas Também Voam, e Império do Sol, também filmes que falam de guerra, sob o olhar, sofrimento e astúcia infantil. Também quis saber de como ela tece suas três identidades (Antiga Etiópia, Itália e Brasileira) nos seus textos, e tivemos respostas líricas e interessantes de como a multiplicidade identitária se conjuga desde seu gosto pela comida mediterrânea, até a certeza de que não poderia mais viver sem o Brasil. Tendo consciência no entanto, que durante muitos anos, um espaço vazio se fazia presente. Uma saudade eminente de um exílio deliberado.

Ao ser perguntada como escreve, achei interessante a distinção que fez para a ficção, principalmente os contos de fada, essa narrativa que se localiza fora do tempo, num tempo imaginário a qual se chega via um tempo sensorial. Marina falou da sua entrega, do seu mergulho numa outra dimensão. Lembrei do texto de Virginia Woolf – “Professions for Women”, onde ela fala do escrever ficção como um momento de transe, mas não de transe romântico, onde a inspiração cai do céu, mas um transe deliberado, onde o escritor mergulha em algo inconsciente, tendo as rochas do fundo do mar como metáfora para esse tessitura ficcional, criando assim um real bem mais rico que a nossa vã realidade; uma realidade expandida, que dialoga com o outro lado das coisas; para que outros sentidos e possibilidades se façam explodir.

Nos três eventos em que pude estar, achei a participação do público maravilhosa. Tantos professores de Literatura; tantos jovens curiosos, a fazerem perguntas pertinentes, sempre mediados pelo competente jornalista/poeta Linaldo Guedes. A juventude realmente transitando pelos eus líricos, pelas múltiplas identidades, pelas novas mídias, enfim, gente articulada, destemida para dialogar com o autor, com o público, sem medo da exposição. Aplausos para o Café Literário.

Comprei uma edição belíssima de A Moça Tecelã, com ilustrações dos bordados de Zulma, Marilu e cia, para que eu possa continuar tecendo sonhos vida afora.

Quanto a Moacir Scliar, Cuenca, Loyola Brandão, Affonso Romano, Sérgio Castro Pinto, Hildeberto, não pude prestigiá-los. Mas confesso que, a tecelã Marina e o esquisito Antunes, me abasteceram. Afinal, não se pode ter tudo, ainda mais ao mesmo tempo.

Para terminar, uma brisa no Terraço Brasil, para o lançamento de Outras Leituras de Caetano Veloso, organizado por outro poeta e brilhante professor, Amador Ribeiro, que colocou os alunos literalmente para Caetanear. E nós, nessa noite ao luar, juntamente ficamos Odara!

Ana Adelaide Peixoto João Pessoa, 28 de novembro , 2010


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